terça-feira, dezembro 30, 2003


[here comes the sun]




O almoço foi para colesterol nenhum botar defeito, mas não deu sono. Consegui passar a limpo o que tinha escrito à mão ontem e anotar os pensamentos da caminhada.

Acho que acertei o meu esquemão.

Lá pelas 15h o sol apareceu e fiz um recreio lá pelo pátio. Aproveitei o impulso e dei banho nos cachorros.

O dia rendeu :)

Voltei para os livros até o pai chegar com a tartaruga. É, não chegava os gatos e cachorros, ele achou uma tartaruga das grandes na rua.

Virgínia já se instalou no meu matinho e já foi tirada duas vezes da piscina.

Hoje a noite começará o problema com as camas. Na última contagem, chegamos a conclusão que faltará uma.



[caminhando]




O céu continua nublado, mas o vento mudou. Nordestão forte, mar agitado. Ondas de um metro, mas com 2 segundos de intervalo. No surf, neh. Esta noite teve ressaca, pois a areia está molhada até perto das dunas.

Resolvi começar a minha caminhada por dentro, via farol norte. Fazia tempo que não passava ali. Está aparentemente em ordem de funcionar, mas não o vejo iluminando à noite.

Embora o vento forte, andei mais rápido que nos últimos dias. :) Se seguir assim, em breve estarei correndo de novo.

Ainda não consegui bem sincronizar as passadas com o ritmo do pensamento, mas estruturei uma boa parte da dissertação nesta hora. Caminhar/correr sempre me rendeu ótimos insights.


segunda-feira, dezembro 29, 2003


[as distâncias]




Direto da redação do Jornal da Rua 4, ex-Zona Nova de Capão.

Nossa redação fica a 27min da Plataforma de Atlântida, direção Norte, em corrida lenta a uns 10 km/h. Ou à 27 min da frente do Hotel de Jardim Beira Mar, direção Sul. Ou, ainda, à 1h:02min do último campo de futebol (ao norte) de Capão Novo, direção Sul.

Perto de onde fica isso?



Hoje o dia não amanheceu por completo antes das 10h. Um restinho do vento polar ainda gelava o ambiente, trazendo à lembrança o som das rajadas na noite. A camada de ozônio ficou dormindo, pois com todo aquele cinza chumbo do céu, Rossana e eu voltamos vermelhas da caminhada.

Vento sul soprando à mil. Certinho como o pai tinha falado. Três dias de nordestão, depois vira e é chuva quase certo. Ele não é parente do cacique Cobra Coral, mas nasceu em algum lugar entre Maquiné e Torres.

O mar estava marron, bandeira preta e os salva-vidas de agasalho. Nenhum peixe entre a zona nova/ araçá e a praia seguinte. Nenhum volei no campinho aqui da frente. Decididamente devagar.



Meu projeto de abandono da vida sedentária dos últimos dois anos vai de vento em popa, literalmente. O mesmo não acontece com a minha dissertação, pelo menos na velocidade. Ainda não me adaptei aos horários, ao povo em volta e as tarefas extras.



Amanhã começa o retorno do povo para passarmos juntos para 2004. A coisa toda será bem familiar. Tomara que esteja sem vento para poder ser no pátio, mesmo.






domingo, dezembro 28, 2003

histórias deste Natal


créditos: http://www.lawgirl.com/
[histórias deste Natal]

Não sei porque alguém precisa tirar a dentadura quando vai ao banheiro, durante uma festa. E fica difícil entender porque a pessoa sairia de lá sem ela. Pois foi o que aconteceu na nossa festa de Natal. Quem foi ao banheiro entre as 22h do dia 24 e a primeira hora do dia 25, teve de ficar encarando um certo sorriso que havia sido deixado sobre a bancada do lavatório.

O tal sorriso era uma presença tão viva, possivelmente um voyeur, uma certa ameaça odontológica, que algumas pessoas confessaram que colocaram a toalha sobre ele ao usar o banheiro. Uma coisa foi unânime: ninguém que que topou com a ... prótese disse uma palavra. Não teve nenhum ser despreendido que viesse correndo com a coisa na mão e perguntasse:

-Quem perdeu!?!?

Na entrega dos presentes e nos abraços de Feliz Natal, entre vivas e sorrisos (claro) localizou-se o dono. Vô Dino, para infortúnio e gozação geral sobre o clã dos Larronda, sorria largamente sem nenhum centro avante na área. Até que, num dos abraços, a Rossana gritou: Vô, cadê os teus dentes?

O fato de não termos, por enquanto, crianças na família, fez com que demorasse mais para o assunto entrar na roda, mas, possivelmente, foi o que salvou a vida da dentadura.
(direto de Capão da Canoa, na hora do recreio)

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sábado, dezembro 27, 2003


[direto de Capão da Canoa]


No dia 25 iniciei um post sobre a festa de Natal da família. Já estava lá por umas 15 linhas, quando a energia acabou e eu não tinha salvo nada. Me irei e não reescrevi. Uma hora destas me inspiro e tento de novo.

Estou postando de Capão da Canoa, nas pseudo férias tão esperadas. Não vai haver muita movimentação por aqui nos próximos tempos.
Resolvi trabalhar na praia, e, isso, tem seus prós e contras. Nos prós pode-se incluir: comida da mãe, a praia, o mar, o vento, o matinho que tem no pátio e que é meu escritório predileto. Nos contras: a louça, algo inacreditável, lavar roupa, faxina.

Este ano, minha mana precisou alugar sua casa que fica ao lado e, então, construiu uma cêrca no meio dos dois terrenos. Os cachorros ficaram desolados. Y'shana, que é cega, ainda continua dando de nariz na cêrca. E não adianta nem gritar, porque ela é surda, também. Sei lá quanto significa em anos humanos, 15 anos num cão.
Minha mãe já está iniciando um stress prevendo a queda da cadela na piscina e sua morte se ninguém ficar cuidando a coitadinha. De cinco em cinco minutos ela procura Y'shana, e não adianta lembrar que ela não adianta gritar. Minha leitura, não está sendo o que eu esperava...

Quero ver, também, o quanto de tempo que meu cunhado vai conseguir aguentar sem saltar a cêrca e pular na jugular do inquilino. Acredito que no primeiro churrasco feito no templo. Minha mana riu quando eu falei sobre isso na festa de Natal e disse que não se importava em ver os outros usando as suas coisas. Quero só ver quando a vizinha resolver lavar a bunda do nenê na bacia de maionese dela...

Este ano, depois de décadas, estaremos todos, entre idas e vindas na mesma casa. Morar junto com meu cunhado é algo assim como ser sunita e ter que morar numa aldeia shiita, ou vice-versa.
Para começar, como estou solteira, fui banida de meu quarto que é de casal e vou dividir o quarto com minha filha. As demais meninas foram para o quarto do Lucas. O Lucas e o Rodrigo para o quarto dos cachorros. Os cachorros para o depósito e resta saber com quem vão dormir as gatas.
Estou pensando seriamente em buscar minha barraca e me instalar no matinho.



quarta-feira, dezembro 24, 2003


[é Natal .... quase]


Estou aqui numa maré de papel colorido, etiquetas que não desgrudam, ou que grudam onde não deveriam grudar, um rolo de fita durex que desaparece de 2 em 2 minutos, uma tesoura que não corta e duas mãos que não servem para muita coisa, no sentido prendado da utilidade.
Pacotes deveriam poder ser feitos em html ou java e não com papel e fitas. Um dos poucos exames que peguei na época de colégio foi o de "Artes".

Lembro especialmente um ano perverso, onde havia um guardanapo com figuras nos quatro cantos para bordar. Cada uma mais difícil, cada uma com uma forma diferente de usar a agulha. Eu já começava me atrapalhando para por a linha na agulha, que dirá seguir os desenhos.
A coisa foi ficando tão horrorosa, que eu chorava, me espetava, costurava minha roupa junto no tal guardanapo. Ao final, ele parecia ter saído de um campo de batalha, manchado de lágrimas e sangue, com desenhos que pareciam de alguma seita secreta e não singelos legumes. Ainda por cima, trazia pendurado, atrás, um pedaço do meu pijama. Entre desmarchar o bordado e cortar o pijama escolhi a segunda opção.
Infelizmente, a professora não valorizou muito o meu esforço...

Hoje, tentando fazer pacotes, lembrei do infortunado guardanapo.
Logo de início vi que havia cometido um erro de planejamento. Comprei coisas redondas, cilíndricas e com formatos indefinidos. Os pacotes começaram a parecer o meu guardanapo, com excessão do sangue.
Em alguns presentes, tentei colar o papel nas caixas. Pelo menos eles não se desmanchavam. Poderia até parecer um efeito ... pós- algumacoisa. Em outros, desisti e colei um cartãozinho de Feliz Natal com o nome da víti, digo, do presenteado e era isso.
Empacotei só o que era quadrado ou retangular.

Enfim, lá estão eles, coloridos, sobre o sofá, esperando a meia noite de amanhã. É, sobre o sofá, mesmo. Família que tem um cão que mais parece ser filiado a UDR, tal seu apego ao território, não pode por nada de diferente no chão.

Mas no ano que vem, prometo começar mais cedo e prometo não comprar nada que não seja quadrado ou retangular.


terça-feira, dezembro 23, 2003

mais leituras


.::. A educação é bem público, artigo de Wrana Panizzi

Com base nos princípios do mérito e da liberdade acadêmicos, a Universidade produz conhecimento, C&T, arte, cultura, identidade, riqueza material e valores que não beneficiam só o diplomado, mas a sociedade. Essa obra não pode e não deve ser financiada por indivíduos, mas pelo conjunto da sociedade.

Wrana Panizzi, professora titular do Depto. de Urbanismo e reitora da UFRGS e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Educação Superior (Andifes). Neste artigo, ela responde à pergunta da 'Folha de SP' - 'Deve-se instituir uma contribuição social para o ensino superior?'
:: segue


.::. Biblioteca Digital reunirá produção científica do país

Universidades do Rio se integram ao projeto

Toda a produção científica de teses e dissertações do país será concentrada na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Informação em C&T (Ibict), vinculado ao MCT

No Brasil são produzidos anualmente cerca de 30 mil trabalhos científicos. O sistema de informações já tem em seu banco de dados quatro mil dissertações e teses da USP, UFSC e PUC-Rio, as três primeiras Universidades a se engajarem no projeto.
:: segue

.::. Relatório traça rumos da pesquisa no país

Duas instituições federais de apoio à C&T estão revendo conceitos e estudando ajustes estruturais para atender melhor à demanda pela pesquisa no país

As ações serão baseadas em relatório que a Comissão Interministerial para o Desenvolvimento da Pós-Graduação e da Ciência e Tecnologia entregou para a Capes e o ao CNPq no dia 10 de dezembro.

O documento aponta a necessidade de se retomar a reclassificação das áreas do conhecimento, o que deve ser feito de janeiro a julho de 2004.
:: segue
:: mais informações: Relatório no CNPQ

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[boas leituras]


Para movimentos sociais, país deve direitos fundamentais
Maurício Thuswohl – 22/12/2003
O primeiro ano da experiência histórica de um governo de esquerda no Brasil se aproxima do fim sem ter dado sinais de reversão do grave quadro de violação do direito humano ao trabalho, à terra e moradia, à educação e à soberania alimentar.
(leia mais)


Tratado com EUA ameaça soberania do Chile, diz Stiglitz
Marco Aurélio Weissheimer
Para o prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz, Chile não obterá livre acesso aos mercados dos EUA, assim como o México também não obteve, no caso do Nafta. Pesquisa revela que cerca de 1,2 milhão de chilenos estão vivendo em situação de extrema pobreza.
(leia mais)


Perspectivas - Fantasmas de Ruanda
Maurício Thuswohl
Primeira cúpula da ONU sobre a sociedade da informação preferiu ignorar os temas mais sensíveis a serem discutidos no encontro, como a criação de mecanismos para diminuir a exclusão digital que ainda assola 86% da humanidade.
(leia mais)

:: fonte >>> Agência Carta Maior - 22/12/2003


segunda-feira, dezembro 22, 2003


[sgt. pepper's lonely hearts club band]


por Nemo Nox

Em 1967, os Beatles lançaram seu mais ambicioso trabalho, que marcaria não só sua carreira mas todo o panorama da música pop e da cultura daquela década. Apesar de ser uma extensão natural de seu disco anterior, Revolver, este novo álbum trazia uma coleção de conceitos inéditos. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band é até hoje um monumento à inovação e ao espírito revolucionário dos anos sessenta.
Conta a lenda que .....

:: se quiser saber, leia no Burburinho



[Location-aware Devices, Privacy, and UI Design]


Dispositivos e serviços de localização mostram que a tecnologia possui tendências contraditórias. Ao mesmo tempo em que auxiliam a localizar serviços, lugares turísticos ou amigos numa certa região, podem denunciar a sua posição para chatos de plantão, marketeiros ou, em piores hipóteses, assaltantes e governos totalitários.

:: Artigo de Howard Rheingold, no The Feature. (inglês)


domingo, dezembro 21, 2003


[Carlos Nelson Coutinho: "O governo Lula é de centro direita"]


Capturado no excelente Comunicação, Cultura e Política, blog de Denis de Moraes, a entrevista de Carlos Nelson Coutinho ao JB. Abaixo uma provinha:

JB: A expulsão da senadora Heloísa Helena é a gota d'água a transbordar o copo dos que criticam os rumos do atual PT?

CNC: Trata-se precisamente disto, da gota d’água. Na verdade, não estamos nos afastando do PT, Milton Temer, Leandro Konder e eu, apenas por causa da expulsão da Heloísa e de outros companheiros. Começou há algum tempo a nossa sofrida reflexão sobre as transformações experimentadas pelo PT, que vêm ocorrendo já bem antes da sua chegada ao governo federal. Essa reflexão nos levou à constatação de que há graves processos involutivos no Partido. Foi muito doloroso para nós tomar esta decisão, depois de 14 anos de militância e de dedicação ao Partido.



sábado, dezembro 20, 2003



World as an Aggregator


Outro aplicativo demo. Um visualizador geográfico de subscrições de RSS. Coloque uma URL endereçando para seu arquivo de feeds subscritos e ele mostrará no mapa os sites (somente os que forem visualizados no World as a Blog.


[Brain Off]



:: Para testar de uma espiada nas minhas subscrições: http://planeta.terra.com.br/educacao/Gutierrez/subs.opml (copie esta URL e cole lá)


sexta-feira, dezembro 19, 2003


[PHASE 5]


Meu amigo Rafa, que aguenta, com o maior bom humor, todos os meus htmlstress, mandando ver no show da PUC, com a Banda Phase:


clonada direto do blog dele >>> ]Darkman[


quinta-feira, dezembro 18, 2003


[enquanto isso, em alto mar]


:: nossa conversa que tem rendido tantos textos, vais e voltas, em vários blogs, fica parecendo papo entre os mariscos que se apegam entre as pedras e o mar.

Racha em Genebra

Encontro global sobre mídia posterga democratização da internet e Fundo de Solidariedade Digital. Ponto positivo foi a união entre ONGs e países empobrecidos
Daniel Merli

Ficou para 2005... Encurralados por uma nova aliança entre organizações não-governamentais (ONGs) e os governos do Sul do planeta, os países e empresas que controlam a maior parte dos meios de comunicação jogaram para frente as principais decisões da Cúpula da Sociedade da Informação, encerrada este domingo, em Genebra. A disputa vai prosseguir nos próximos dois anos, desembocando na segunda fase da Cúpula, na Tunísia, em 2005.

O ponto positivo foi a coesão das ONGs que participaram do encontro organizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela União Internacional de Telecomunicações – que une empresas do setor e governos. Foi a primeira reunião da ONU em que, além dos diplomatas de governos, as ONGs puderam participar das decisões. ''Em sua primeira participação real num encontro da ONU, a sociedade civil soube constituir-se em uma força unida em torno de algumas propostas, apesar da extrema diversidade de seus componentes'', analisa o especialista em comunicação Armand Mattelart, em artigo para Le Monde Diplomatique. segue - fonte: Planeta Porto Alegre


:: mas no lado da luta:

Software livre será usado no combate à violência urbana

Maurício Hashizume - 17/12/2003

Brasília - O Terra Crime, software livre – com código aberto e não-proprietário - de geoprocessamento que controla e monitora os atos criminosos por meio do registro e cruzamento de dados relativos ao espaço e ao tempo em que se deram, é a mais nova “arma” do Ministério da Justiça (MJ) para enfrentar a violência urbana.

Lançado esta semana pelo ministro Márcio Thomaz Bastos e pelo secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, o Terra Crime, que será distribuído gratuitamente a órgãos de segurança pública das cidades brasileiras interessadas, foi criado para ser uma ferramenta central no planejamento de políticas de segurança pública e estratégias de ação operacional em níveis geográficos diferenciados (desde uma determinada rua até o país como um todo), orientando o processo de distribuição de recursos e contribuindo para que a intervenção policial seja mais precisa e ágil.
[...]
Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, está utilizando o Terra Crime, como projeto piloto, desde o mês passado. Apesar dos pré-requisitos para que o software seja implementado, como a informatização das ocorrências policiais, técnicos da Senasp já identificaram 35 cidades em 18 Estados com potencial para instalar o programa, entre elas Rio de Janeiro, Manaus, São Paulo, Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte, Cuiabá, Goiânia e Campinas. (ler todo o artigo - na Agência Carta Maior




quarta-feira, dezembro 17, 2003


[continuando]


Paulinho disse:
"A ruptura existe ali e acolá. Fazem parte de esforços para tentar algo novo. Tabadotupi é uma tentativa. Dpadua escreveu tbm sobre Sociedade da Partilha. Eu há tempos falo nisso. Hernandi fala sobre colaboração, ética hacker, piratas. Dalton toca os projetos do MetaReciclagem. Felipe com o Liganóis. Etc

Creio que cada um leva sua visão e tenta aglutinar pessoas em volta de suas ações descentralizadas.

O risco que cada um de nós corremos é de não acertar, de achar que estamos mudando algo quando na verdade estamos inseridos no mesmo sistema que criticamos. Esse é um risco. Vc alertou há algum tempo com aquela fábula da ribeirinha.
Acho que a inteligencia coletiva em seu contexto de vários cérebros colaborando é uma boa ajuda. As listas de discussões, os blogs, os comentários e todas as conversações que emergem nesses meios ajudam a cada um a repensar seus próprios pontos de vista e chegar em novas idéias ou percepções da realidade.

Tbm acho que a ruptura real ainda não aconteceu... talvez nunca aconteça. O que vale é tentar."

Hernani continua:
"Su, continuo achando tua analise equivocada. O linux não é exemplo de software livre. Exemplo é o apache... o linux rompe o paradigma do modo de produção capitalista, burguês, protestante, industrialista, imperialista e o escumbau. Mas não é perfeito. Tem suas contradições... logicamente."

Raquel, entrando na roda:
"Vou interferir com a minha colher torta: Su, sou obrigada a concordar com o Hernani. Eu realmente acho que o modo de produção do linux e a sua persistência enquanto ferramenta colaborativa, "idealista", com pessoas que trabalham de graça só por amor à camiseta e o fanatismo quase religioso dos linuxers aponta sim, para uma ruptura. Essa ruptura é também, como já foi falado, passa por comunidades virtuais, blogs, webrings e TAZ (que eu não acho que seja sinônimo de tudo isso). Essa ruptura é, justamente, o que ninguém esperava: De repente, no seio capitalista selvagem, do nada, surge um trabalho colaborativo e cooperativo mundial que dá certo.

O Castells desenvolve muito essas idéias num capítulo em que ele fala da ética hacker no livro novo- A Galáxia da Internet. Ele acredita que a Internet, por ter surgido numa confluência meio estranha, cheia do liberalismo dos anos 70, o idealismo da contra-cultura, as revoluções e o movimento punk, é capaz de gerar essas rupturas por conter e por conter em si essas contradições."

Su, seguindo o rastro:

Quando eu falei que "O Linux, mesmo entendendo-o como símbolo do software livre, colaborativo, não é um modo de produção.", falei entendendo "modo de produção" no sentido abrangente, pois estava falando de um todo hegemônico social, político, econômico, cultural. Disse que o Linux era símbolo (não exemplo) do software livre, pois, neste assunto é referência, é associação de idéias.

Hernani, o Linux não rompe o modo de produção capitalista, burguês,... porque ele é produzido dentro do sistema dominante que é este, num processo de elaboração (criação) diferente, mas que não altera a lógica sistêmica. Seu processo de elaboração é tendência, assim como a Internet, que a Raquel coloca tão bem, é. Condição de possibilidade de práticas diferentes que possam se disseminar. Pode levar à uma ruptura? Acho cedo para dizer.
Máquinas usando Linux , empresas produzindo Linux, operam no modo de produção capitalista e servem perfeitamente aos seus objetivos de produção social e apropriação privada.

Concordo com a Raquel, pois ela coloca as coisas de modo diferente. Ela usa modo de produção no sentido de forma de criar, elaborar, de processo. E, isso, é esperança de criar espaços de ruptura. Falo esperança, porque as próprias contradições envolvidas não permitem ir além da tendência.

Concordo com o Paulinho: "a ruptura existe aqui e acolá". E acrescento: quem dera como vírus que se espalhe e não como apenas guetos.

Em muitos aspectos temos as mesmas idéias. E penso que é importante esta partilha, como estamos fazendo aqui, para o avanço nestas fissuras em que tentamos fazer germinar algo novo.
Entendo que o conhecimento, a ciência e a tecnologia são bens humanos, que devem ser construídos de modo a vir ao encontro dos interesses da humanidade e ser de livre acesso e utilização por todos. Acredito que é importante o nosso engajamento na luta para manter e conquistar a liberdade e a autoria dentro destes espaços que se abrem.

O que eu pontuo, e foi o início da minha intervenção, é que, neste processo, não esqueçamos a totalidade onde estamos inseridos ao criar, estudar, mobilizar, valorizar os espaços de luta. Não negligenciemos as contradições. Justamente, e aí concordo de novo com o PR, para não cairmos no risco de pensar estar mudando alguma coisa, quando apenas estamos legitimando o que aí está.



terça-feira, dezembro 16, 2003


[Porto Alegre terá encontro mundial pela paz e contra a guerra]


Marco Aurélio Weissheimer - 12/12/2003

Porto Alegre - A capital gaúcha sediará, de 11 a 13 de fevereiro de 2004, o Encontro Internacional pela Paz e Contra a Guerra. O evento, promovido pela Prefeitura de Porto Alegre, pretende ser um espaço de balanço, de debate e de formulação de propostas sobre o sistema de poder mundial e sobre o processo do Fórum Social Mundial. As potencialidades e os horizontes futuros do FSM serão analisados a partir da necessidade de integrar o tema da paz e da guerra com o da luta por "um outro mundo possível". O encontro, que será realizado na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), também servirá para as primeiras discussões sobre a organização do FSM 2005, marcado para Porto Alegre.

Entre os palestrantes convidados, já confirmaram presença Tariq Ali, Bernard Cassen, Ignacio Ramonet, Emir Sader, Ana Esther Ceceña, Daniel Bensaid, Atilio Boron, Gilberto Achcar, Meena Menon, João Pedro Stédile, Paulo Vizentini e Beverly Keene. Os debates ocorrerão em torno de seis mesas, com a seguinte programação.

:: informações: pelapazcontraguerra@gp.prefpoa.com.br

:: fonte: Agência Carta Maior



advinhem quem é a furiosa
[Natal]


Hoje foi o dia de desalojar todos os insetos que habitam o meu telhado e a cêrca viva. Agora ela está viva e indignada. Uma das lagartixas soltou o rabo e disparou e sua companheira me olhou com uma expressão definitivamente assassina.

Dia de colocar as lâmpadas de Natal.

Faz tempo que não faço árvore e muito tempo, ou nunca, usei pseudo-neve ou pseudo-coisas que não existem por aqui. Sempre me deu uma angústia danada ver o Papai Noel tão agasalhado. Vai ver era por isso que eu tinha aquele temor respeitoso quando ele aparecia em todos os Natais da minha infância.

É meus caros... No bairro Navegantes, um bairro entre o pobre e o remediado, como dizia a minha avó, o Natal era um acontecimento. Nos tempos que se tinha vizinhos e que a rua era uma extensão do pátio, um happening da fofoca e da solidariedade, tinhamos um Papai Noel profissional. Dedicadíssimo. Com carroça, cavalo, sininho e um cajado temível, que fazia estremecer o bairro todo.
Todo o Natal ele percorria a Av França de alto a baixo, da delegacia até a Farrapos, presenteando, dando varadas, filando uns comes aqui e ali e, tornando mágico o Natal dos nem tão pequenos. E um tanto aterrorizante para alguns.

Meu avô, jogador de bocha e tomador de um(?) lisinho diário, antes de nos pegar no colo e conversar, era um alvo anual das varadas. Acho até que o Papai Noel era parceiro da bocha e resolvia descontar no Natal alguma partida mal resolvida.
O moleque ruivo e sardento que morava umas duas casas depois da minha já chegava de joelhos, porque a lista na mão do Papai Noel era maior que ficha corrida do ladrão da rua.

Mas a coisa toda era mágica. Noite, mães, tias e vós se agitando pela casa. Banho tomado, berreiro pra prender o cabelo. Berreiro discreto neste dia especial, neh.
E lá ficávamos nós, a mana e eu, indecisas entre subir no muro e espiar ou ficar o mais perto possível da segurança da casa.

E aí o sino tocava e tudo começava, mais uma vez.



[tendências]


Hernani escreveu:

Su, tua análise é muito conservadora. Vc se prende à realidade e esquece de mensurar as tendências. Não é noviadade que a sociedade tal como conhecemos e vivemos tem um velocidade de atualização surpeendentemente baixa. No entanto, os periodos (as ondas) devem ser mensurados a partir da ruptura. Assim foi com a revolução francesa e suas consequências; com a revolução industrial e o avanço do imperialismo britânico (e mais adiante o americano).
O cenário de ruptura se dá na sociedade da informação com o aparecimento do linux. Sua importância está no 'desabrochar' de um novo modo de produção. Nem comunista, nem socialista e, muito menos, capitalista. Estamos vendo o nascimento da colaboração. E, consequentemente, na administração de baixo para cima e na descentralização do poder. Eu, particularmente, quero pensar o que fazer com isso. A metafora nasceu deste novo paradigma, assim como, toda essa integração de blogs, sites e conversações.
abs
hdhd

Su responde:

Minha análise não é conservadora, justamente porque ela vê as tendências, mas as vê não de forma superficial e estéril. Ela tenta ir fundo e vislumbrar o que dá movimento as tendências. A essência da contradição.
Não acredito que o Linux signifique ruptura, mas , sim, significa tendência. A contradição reside na tensão da tecnologia, do conhecimento, da ciência entre polos de regulação e emancipação (aqui eu me socorro do Boaventura). O Linux, mesmo entendendo-o como símbolo do software livre, colaborativo, não é um modo de produção. O modo de produção onde emerge e sobrevive o software livre é capitalista, nas suas mais variadas nuanças.
Até por isso a luta é dura e sem tréguas.
Vejo grandes possibilidades, como você vê, no software livre, na colaboração, na não sei se consequente administração debaixo pra cima. Mas vejo estas coisas dentro da totalidade onde elas estão inseridas. Vejo com otimismo, antevejo os espaços de luta, penso com pensamento estratégico. Mas sem me desviar da crítica e da totalidade para não cair num ativismo alienado e inócuo.
O que fazer com todas estas possibilidades? Eu, também, penso sobre isso. Apenas não concordo que seja um novo paradigma, no sentido da ruptura. Ruptura para mim significa corte, abandonar o velho e assumir o novo. E isso não acontece. A dança das mercadorias continua.
Aqui, pode-se inserir uma crítica aos que vêem o deslocamento do foco do 'produto' para o 'conhecimento' no capitalismo atual. A meu ver não há modificação alguma entre a mercadoria-produto e a mercadoria-conhecimento no que se relaciona a visão de mundo que as definem e manipulam.



segunda-feira, dezembro 15, 2003


[as transformações do capitalismo ou, afinal, onde andamos]


Alguns posts abaixo, entre outroas coisas, eu falei:

Su: Não vivemos numa sociedade em rede e saimos de uma sociedade de cultura de massa. Vivemos na intersecção destas duas sociedades. Uma sociedade onde a rede opera numa certa esfera e determina consumo de massa de produtos não massificados em outra, e na mesma, pois não são esferas separadas. Uma sociedade que cria um consumo elitista e um desejo de consumo, seja qual for, cuja possibilidade, sempre em modo futuro de realização, dá movimento a máquina.
Esta lógica permeia todos os espaços, mesmo os que tentam lutar contra suas determinações.
A mercadoria e suas metamorfoses ainda é o início, meio e fim destes movimentos. Seja ela a muamba, as ações da bolsa, a informação, o conhecimento. Porque a lógica reduz tudo a mercadoria, inclusive as pessoas, os projetos, ...

Aí o Tupi resolveu contribuir com o nosso debate que está rendendo:

Falai' Su, mil graus o cenario q vc ve de q estamos na transicao entre cultura de massa e sociedade em rede. Mas tipo fiquei em duvida, cultura de massa implica em modo de producao industrial de massa tb? Um modelo q confronta com o modo de producao industrial de massa pode ser considerado submisso ao sistema?

Aí eu pensei em sacar alguma coisa do Harvey, mas o texto legal dele é quase um capítulo e não tem como transcrever ou mesmo fazer uma síntese decente. Então resolvi pegar uns aportes meus, pensados no fim do ano passado, mais ou menos, e que falam nestas coisas, nestas intersecções. Nos mortos que carregamos, segundo Marx.

Su: Quando ele fala em 'fim da indústria', pelo seu cada vez menor contingente de trabalhadores, isso não significa que o número de indústrias e o montante de produção reduziram-se. Ao contrário, a produção aumentou e diversificou-se, se considerarmos a totalidade do planeta. Igualmente cresceram o setor de serviços e o agrícola. A economia como um todo cresceu. O que mudou foi a geografia econômica e a configuração interna das atividades produtivas que hoje, pelo desenvolvimento tecnológico, necessita menos presença humana na produção. Porém, o que não mudou foi a lógica que perpassa todo o sistema: quem trabalha vende a sua força de trabalho, quer em atividades manuais repetitivas, quer em atividades intelectuais criativas. Os 'serviços' são mercadoria e cotados da mesma forma que os bens. O mesmo vale para o conhecimento e a cultura.
É por estas que insisti nesta questão da lógica que permanece.
Hoje convivem muitos modos de produção. Formas antigas, como as patriarcais, estão voltando com força, exploradas pelo que chamam 'terceirização.
Tem uma análise bem legal que o Harvey faz disso, quando analisa o as transformações de 1970 para cá.
Todo um discurso sobre supremacia dos serviços, flexibilidade e formas arcaicas de produção dando base para tudo isso.
Com todo o avanço técnico o tempo de trabalho aumenta, assim como aumenta a precarização dos direitos do trabalhador.
Na realidade, o panorama pós-industrial, não é tão pós-industrial assim, pelo menos se pensarmos geograficamente.

:: em tempo: achei algumas transcrições do livro de Harvey, Condição Pós-Moderna. Não sei se abordam nosso assunto, mas deixo os links:

Passagem da Modernidade à Pós-Modernidade
Citações do livro "Condição Pós-moderna"
(fonte: O Dialético)

No segundo texto acima, cuidado apenas com as citações fora de contexto. Pois, no seu livro, Harvey conclui:
"Há alguns que desejam que retornemos ao classicismo e outros que buscam que trilhemos o caminho dos modernos. Do ponto de vista destes últimos, toda a época tem julgada a realização da "plenitude do seu tempo, não pelo ser, mas pelo vir-a-ser". Minha concordância não poderia ser maior."



domingo, dezembro 14, 2003


[até a pé nós iremos]


mas o certo é que nós estaremos. Com o Grêmio, onde o Grêmio estiver!



[Sociólogo Chico de Oliveira sai do PT ]




FRANCISCO DE OLIVEIRA

especial para a Folha de S.Paulo



"A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção e, portanto, as relações de produção, isto é, todo o conjunto das relações sociais. Esta mudança contínua da produção, esta transformação ininterrupta de todo o sistema social, esta agitação, esta perpétua insegurança distinguem a época burguesa das precedentes. Todas as relações sociais tradicionais e estabelecidas, com seu cortejo de noções e idéias antigas e veneráveis, dissolvem-se; e todas as que as substituem envelhecem antes mesmo de poder ossificar-se ."

Marx e Engels, "Manifesto Comunista", 1848 (destaque do autor).


Este artigo consuma meu afastamento do Partido dos Trabalhadores, do qual me desligo formalmente. Aqui não me dirijo a qualquer instância formal do partido, nem aos seus dirigentes no próprio partido e no governo, mas aos petistas e aos cidadãos em geral. Aos primeiros por ter compartilhado com eles a militância durante todos os anos de existência do partido, e aos segundos por serem os únicos detentores formais, pela Constituição, do poder republicano e democrático, aos quais o Partido dos Trabalhadores e seu governo devem obediência.



Ambos confiaram no Partido dos Trabalhadores, seja na condição de militantes e eleitores, seja na condição de cidadãos que permitiram, pela sua reiterada aposta na democracia, a existência do Partido dos Trabalhadores e sua chegada ao Poder Executivo e à maioria na Casa legislativa que representa o povo.



Tenho o direito de cobrar do Partido dos Trabalhadores pelo governo que ele realiza, pela minha condição de militante e de cidadão. E, daqui por diante, exclusivamente pela minha condição de cidadão. (segue)



sábado, dezembro 13, 2003


[totalidade]


Hernani, seguindo o assunto que comentei no post anterior, diz:
Não estou analisando capachos como Drake. A contradição vem da negação, por um lado, e do outro a aceitação dos padrões das sociedades capitalistas. Penso que a necessidade do MetaReciclagem e de outros projetos colaborativos é a negação efetiva do tradicionalismo. [...]
Uma administração pirata (ou por células de terror) só é possível num ambiente caótico. E livre. Não fazemos apologia aos butins. Não queremos nos relacionar com a espada mais ágil. Não queremos a subordinação pelo sistema. Estamos propondo coisas diferentes. Uma filosofia Open Source. [...]
Vivemos numa intersecção. Não entre a cultura de massas e a cultura de rede, mas numa interação de idéias e pensamentos que tem origens anteriores ao feudalismo. No entanto, a sociedade em rede é fator comum, um máximo divisor comum da humanidade. Vivemos em rede. Rede de amigos, de parentes, família, negócios. Tudo isso engendrado nos relacionamentos 'conversacionais' das pessoas comuns. Uma sociedade colaborativa emerge quando a gentileza gera gentileza. [...]
Assim como hacker não é uma palavra do mal; pirata significa uma luta pela liberdade de uma sociedade que negava a sua contemporaneidade). Por isso, creio que a solução está numa visão celular da rede. Com informação e autonomia.
leia na íntegra

E eu continuo.
Capachos como Drake são o exemplo vivo da contradição e não excessões. Quando eu digo que o sistema e sua lógica permeia tudo, aponto que a economia informal é apenas economia que opera em modo precário e não fora da exploração de uns por outros. Ela mesma reproduz a lógica na qual está inserida.
Tens razão em relação ao MetaReciclagem, precisamos pensar e engendrar linhas de fuga, mas sem esquecer que a contradição estará presente e de seu movimento, das muitas e sempre mutantes sínteses é que podemos encontrar novos caminhos. E estes novos caminhos passam por novas formas de ver o mundo, novas possibilidade de estruturação econômica e política, pelo software livre, .... A liberdade será conseqüência e não condição de realização.
E, assim mesmo, só se pode prever a luta.

Faz tempo vivemos num misto de cultura de massas e de rede, se pensarmos as redes na forma como tu colocaste. Hoje, o que temos é um aumento nas possibilidades desta rede, embora eu não veja um recrudescimento da cultura de massa.
Eu vejo na internet grandes possibilidades, justamente em algumas direções que tu mesmo colocas: "Uma sociedade colaborativa emerge quando a gentileza gera gentileza."
Penso que a rede de redes entrelaça pessoas e comunidades numa trama que não coincide com o desenho das comunidades materiais. Na realidade, esta rede costura numa outra dimensão o que, materialmente, pode estar solto ou muito afastado. As novas comunidades são este emaranhado de fios que se sobrepõem às relações entre as comunidades materiais e constroem comunidades multiculturais que mesclam o local e o global e, sendo outras, são, ao mesmo tempo, as mesmas comunidades materiais.
Uma comunidade online não se constitui no lugar da comunidade local-territorial, antes é seu complemento. Emerge como resistência à fragmentação e ao individualismo, como uma possibilidade de autoconstrução que ocupa os espaços deixados.

Eu entendi o sentido que dás a palavra pirata e hacker, mas quis te alertar que tanto uns como outros estão imersos numa totalidade contraditória e que as contradições se manifestam em todos os níveis. Trabalhar estas contradições em sínteses sempre inacabadas, abertas a muitas vozes é o grande desafio.
Por estas que vejo com tristeza o falecimento do Metáfora.

Uma célula é parte de um todo, é um sistema aberto que interage com o meio e, nestas, a autonomia deve ser desejada, perseguida, mas consciente de seus limites. Limites que não são muros, mas são faróis que orientam a ação.



[lógicas]


"Além das misérias modernas, oprime-nos toda uma série de misérias herdadas, decorrentes do fato de continuarem vegetando entre nós formas de produção antigas e caducas que acarretam um conjunto de relações sociais e políticas anacrônicas. Não sofremos apenas por causa dos vivos, mas igualmente por causa dos mortos." (Karl Marx)

Estamos com problemas geralmente significa, começamos a enxergar as contradições. Hernani diz:

Estamos com problemas no MetaReciclagem. Um projeto colaborativo se faz com um esforço coletivo. Uma operação voluntária. O projeto está sendo levado por uma comissão, que conceitualmente está muito bem organizada. Mas isso reflete, de certa forma, a maneira antiga de gestão de negócios.
O que está errado? Não posso dizer que estamos errados. Estamos equivocados, apenas. Toda vez que tentamos administrar caímos na armadilha do velho mundo. Uma administração voltada para o negócio. E não para os projetos.

Mais adiante, ele faz um paralelo com as sociedades piratas, onde, nas suas palavras "se tratava de uma sociedade que fazia oposição ao 'status quo' vigente à época". Continua de uma certa forma atribuindo a hierarquia e a falta de descentralização, bem como divergências de foco, os problemas vivenciados pelos projetos. Conclui propondo uma administração pirata para o MetaReciclagem:
Assim, um projeto como o MetaReciclagem só pode se desenvolver se pensarmos pirata. Células orientadas a projetos. Autonomia de gestão. Muita informação fluindo entre as partes. E, principalmente, a convicção de que cada célula representa o todo. E assim termos a certeza da construção de um projeto comum. Cada membro do grupo necessita contribuir como base para os outros. Esqueçam coordenadorias, esqueçam chefes, esqueçam... Mas lembremos da operação pirata.

Penso que a mesma contradição que se verifica hoje no MetaReciclagem é a mesma que as próprias sociedades piratas vivenciaram. Ao mesmo tempo em que havia uma autonomia e democracia maior num navio pirata do que num navio da marinha, muitas vezes esta autonomia estava subordinada aos mesmos senhores que financiavam a marinha mercante. Assim como hoje, nos exércitos existem as células desmilitarizadas, relativamente autônomas, mas com funções bem definidas dentro da totalidade da organização.

O MetaReciclagem não é um navio e, mesmo se fosse, o navio navega no oceano, que banha as praias, que são parte do continente... A própria rede determina estas dependências, implicações e imbricamentos. Então não há como fugir à contradição. A contradição mesma que fazia de um Sir Francis Drake um dos maiores piratas e, ao mesmo tempo, braço direito da rainha.
Hoje, quando alguns podem pensar que um camelô, que vende muamba contrabandeada por outro comerciante autônomo, pode ser um moderno pirata, outros podem ver nele apenas mais um capitalista. Tão capitalista quanto os que vendem e compram aquele tipo de muamba chamado ações, commodities, ... em operações onde, também, vale a lei da espada mais ágil, da liderança estratégica e efêmera. Todos igualmente subordinados ao mesmo sistema.

Por isso discordo do Paulo, quando ele diz que o cartesianismo já foi. Embora a realidade não seja cartesiana, as análises sobre ela certamente continuam sendo. Basta lembrar Fukuyama decretando o fim da história, mesmo depois de Hegel ter caído do cavalo no mesmo assunto.

Não vivemos numa sociedade em rede e saimos de uma sociedade de cultura de massa. Vivemos na intersecção destas duas sociedades. Uma sociedade onde a rede opera numa certa esfera e determina consumo de massa de produtos não massificados em outra, e na mesma, pois não são esferas separadas. Uma sociedade que cria um consumo elitista e um desejo de consumo, seja qual for, cuja possibilidade, sempre em modo futuro de realização, dá movimento a máquina.

Esta lógica permeia todos os espaços, mesmo os que tentam lutar contra suas determinações.
A mercadoria e suas metamorfoses ainda é o início, meio e fim destes movimentos. Seja ela a muamba, as ações da bolsa, a informação, o conhecimento. Porque a lógica reduz tudo a mercadoria, inclusive as pessoas, os projetos, ...
Entender este processo é poder criar espaços, ações, opções de resistência. Não sem dor e sem fracasso, mas sem abandonar a esperança crítica.


sexta-feira, dezembro 12, 2003


[InTramse]


Não vou listar os tópicos, mas tem mil novidades no InTramse.



[notícias da CMSI]


Recebo relatos de companheiros que estão participando da CMSI, em Genebra, e eles tem apontado que o evento vem sendo uma conferência das grandes empresas, pois seus temas permeiam todos os espaços. Além disso, os relatos contam que o recinto, que deveria ser o de um evento que discute importantíssimas questões sociais, se parece mais com uma feira comercial.

Uma das polarizações do debate é sobre o governo da Internet, que separa de um lado paises em desenvolvimento e organizações da sociedade civil e, de outro, Estados Unidos e a União Européia.
Na forma como está estruturada a conferência, a sociedade civil tem voz apenas nos discursos, não tendo possibilidade de colocar nos documentos oficiais as suas reinvindicações e propostas.

"Es una cumbre para las grandes empresas y los gobiernos, hay poco espacio para las ONG y los representantes de la sociedad" manifestó el contacto de Radio Mundo Real, Evan Henshaw-Plath.

Cresce o sentimento de que a convocação da sociedade civil se deu somente na intenção de legitimar a Conferência, que só pretende atender o interesse das empresas e dos governos. Ironicamente, numa conferência onde se objetiva a redução da brecha digital, a conexão à internet é fornecida gratuitamente por algumas horas, o tempo excedente deve ser pago.

A verdadeira Conferência das organizações da sociedade civil vem se realizando em paralelo e não sem repressão. Os espaços que lhes são destinados, em alguns casos, não contam nem com aparelhagem de som e telefones.
O aparato de segurança, além de emperrar a movimentação das pessoas, ainda se constitui num mecanismo de controle, pois conta com um chip que permite rastrear as movimentações.

Sobre o Software Livre e o fundo de solidariedade digital, Evan Henshaw-Plath, conta que as quantias milionárias que os paises em desenvolvimento comprometem com a Microsoft se constituem numa nova forma de dívida externa.

:: mais informações:

Documentos oficiais
Informação atualizada da sociedade civil (en inglês)
Ameaça a privacidade dos participantes
Polimedia Lab: We are seized!
Declaración de Kofi Annan
Foro Mundial de Medios Electrónicos
Declaración de la sociedad civil sobre Túnez y la CMSI
Unión Mundial de Ciegos




terça-feira, dezembro 09, 2003


[admirável mundo novo]


Exatamente na hora do provável pico de audiência global, surge na tela o comercial da MONSANTO:

"Imagine um mundo com mais alimentos, com alimentos mais saudáveis, plantados com menos agrotóxicos, onde se preserve a natureza, etc... etc..."

As imagens se sucedem diante dos nossos olhos: campos plantados, verdejantes,crianças bonitas correndo, brincando, sorrindo, famílias ao redor do mundo se alimentando, conversando, num clima onde as emoções falam alto.

"Você pode ter tudo isso com os trangênicos..."

A bela música lentamente emite seus últimos acordes.

Mensagem passada. Quase nem acreditei no que vi, mas lembrei imediatamente:

"Oh, admirável mundo novo! Miranda proclamava a possibilidade da beleza, a possibilidade de transformar até mesmo aquele pesadelo em algo de magnífico e nobre. Oh, admirável mundo novo! Era um desafio e uma ordem.
[...] Um estado totalitário verdadeiramente eficiente seria aquele em que o executivo todo-poderoso de chefes políticos e seu exército de administradores controlassem uma população de escravos que não tivessem de ser coagidos porque amariam sua servidão."


segunda-feira, dezembro 08, 2003


[socializando idéias]


Sonia e demais participantes no Salão de Iniciação Científica.

Hoje, muito se fala em sociedade da informação / sociedade do conhecimento porém, deixando de lado a ideologia que envolve estes termos nas suas mais variadas acepções, constata-se que as pequenas ações de realmente colaborar, de dividir, de socializar o conhecimento e a informação ficam esquecidas. Guardadas em trabalhos engavetados e restritos à congressos e feiras, não chegam ao conhecimento de todos a quem poderiam beneficiar e motivar.
Escrever sobre nossas experiências, divulgar nossas idéias, abrí-las a colaboração e a interação com outras vozes é um dos atributos mais ricos que a tecnologia pode nos trazer.
A par de ser um enorme propulsor de um certo tipo de globalisação, o aparato tecnológico, nos seus interstícios e nos espaços de criatividade e de práticas que engendra, é, também, um reduto de resistência à exploração e a dominação ainda tão presentes. É, ainda, um espaço de luta que cabe ser aproveitado e assumido em toda a sua potencialidade. Um espaço de construção de uma outra globalisação: a do conhecimento socialmente construído e distribuído, a da solidariedade, da colaboração.
É neste espírito que incentivei que vocês blogassem suas impressões, idéias e projetos, usando este espaço e o de seus blogs pessoais para se constituirem partícipes de um ovo projeto de docência, uma docência como movimento social que balance os alicerces das práticas inertes e cristalizadas, que revitalize as práticas educativas realmente revolucionárias. O espaço de um educador que ultrapasse os chavões de sacerdote, tio/tia, mãe/pai, guru intelectual e se constitua num educador-pesquisador, militante de uma nova educação para um novo mundo.

Sei que todas vocês participantes deste evento, apresentadores de trabalho, companheiros de pesquisa, assistentes tem muito a dizer. Então digam, pois cada voz é necessária.
Como diz um parceiro de internet: a revolução não será televisionada, ela já está na rua, na voz e na ação de cada um de nós.


:: postado originalmente no [zaptlogs], mas extensivo à todos pesquisadores, estudantes, autores.


sábado, dezembro 06, 2003


humpf...
[porque hoje é sábado]


Mas se não fosse, dava na mesma. Cá estou eu como uma galinha com o ovo trancado, numa daquelas fases onde um poeta diria que a 'musa se esconde' e um aluno de pós-graduação diria 'estou f*dido'.
Tudo que escrevo parece superficial e até ridículo. Fico aqui pensando se o relatório de uma dissertação não seria melhor se apresentado um pouco mais distante dos fatos que relata.

aiiii ...

Sífilis em todos os prazos e nos desocupados que os inventaram!


sexta-feira, dezembro 05, 2003


[Novo impasse Norte-Sul]

Termina sem consenso a pré-Conferência de Informação. Ricos não aceitam gestão internacional da internet, nem fundo para democratizar a comunicação

Daniel Merli, Planeta Porto Alegre


Mais uma reunião internacional terminou sem acordo entre os países empobrecidos do Sul do planeta e os ricos do Norte. Depois do impasse, em Cancún, da reunião da Organização Mundial de Comércio (OMC), foi a vez do encontro preparatório à Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação (CMSI). A cúpula acontece de 10 a 12 de dezembro, em Genebra, promovida pela Unesco – o braço da ONU para temas de cultura, educação e ciência – e pela União Internacional de Telecomunicações – que une empresas do setor e governos.

A reunião prévia encerrou-se sexta-feira passada sem alcançar seu objetivo. Houve consenso em apenas 15% do esboço dos dois textos que devem ser debatidos na Cúpula – a Declaração de Princípios e o Plano de Ação.

O principal ponto de discórdia é a gestão da internet. Atualmente, os endereços e páginas eletrônicas são administrados, em última instância, pela Corporação para a Atribuição de Nomes e Números na Internet (Icann, pela sigla em inglês) – uma instituição privada sem fins lucrativos, sediada nos Estados Unidos. Segundo a agência IPS, vários governos, principalmente os da China, Brasil, Índia e Quênia exigiram que a rede fosse administrada por uma organização internacional ligada à ONU. A proposta foi rechaçada pelo representante da Casa Branca.

Outra trincheira em disputa é a criação do Fundo de Solidariedade Digital – um financiamento internacional para desenvolver e democratizar as tecnologias de comunicação nos países do Sul. A proposta, apresentada por Senegal, é apoiada por vários países africanos e organizações não-governamentais (ONGs). No entanto, a idéia foi rejeitada, em uníssono, pelos países que detêm as principais empresas de comunicação – e as patentes sobre sua produção: Estados Unidos, União Européia, Canadá e Japão.


Publicado em Porto Alegre 2003: 05/12/2003



[frase do dia]


da Márcia, num pega lá na lista da Turma-POA:


"Se a democracia gringa é tão boa, por que os americanos vivem querendo dá-la a seus inimigos e dão apoio às ditaduras dos amigos?"



quinta-feira, dezembro 04, 2003


[reflexões do formigueiro]

imagem traduzida do site :)

Muito legal o que encontrei no blog chamado The Invisible Shoebox. Andei vasculhando alguns posts antigos e achei muitas coisas interessantes sobre os blogs. Pelo menos do ponto de vista das formigas :)

:: leia este post da Grumpy Girl



[os blogs na primeira série do ensino fundamental]


"O projeto Blogando na Primeira não foi concebido. Foi apenas idealizado. Pois as idéias fluem no caos. Assim, o Blogando na Primeira foi construído de baixo para cima (na medida do possível). As crianças são os artífices e protagonistas do projeto." (Hernani Dimantas)

:: segue no M. Hacker



[os blog e a Microsoft]

Para quem andava querendo saber como será a incursão da Microsoft no território dos blogs, vale uma visita no The Spoke.

(via Radio Free Blogistan)

:: btw: a coisa vem toda em pacote, como sempre.

:: mais no SmartMobs


quarta-feira, dezembro 03, 2003


[a cerca octupla]


Estou voltando para a música. Já conheço este processo.
Tomara que a viagem me leve de novo para onde eu quero estar.


Sometimes everything is wrong. Now it's time to sing along.
When your day is night alone, (hold on, hold on)
if you feel like letting go, (hold on)
when you think you've had too much of this life, well hang on.



[a turma do SmartMobs]


Suzana Gutierrez is a teacher, living in Porto Alegre, at the south of Brazil. She plans to study for a doctorate, concentrating on the use of weblogs in education.

:: conheça o restante da turma


segunda-feira, dezembro 01, 2003


[contradições]


Futuro da produção científica no país é feminino

As mulheres já são maioria nos cursos de graduação e mestrado

Roberta Jansen escreve para 'O Globo':

As mulheres chegaram ao século XXI com escolaridade superior à dos homens. As estatísticas se refletem no aumento da participação feminina na produção científica nacional: elas já são maioria nos cursos de graduação e no mestrado.

Se os homens ainda detêm a maior parte das vagas de doutorado e de pesquisa, especialistas mostram que a tendência deve ser revertida em breve e que a feminilização da ciência no Brasil é uma questão de tempo.

(segue no Jornal da Ciência - 01/12/2003)


Enquanto isso, no Colóquio Internacional: Políticas Públicas, Pobreza e Exclusão Social, na UNUJUÍ, nas trinta e quatro conferências e mesas, vinte e cinco foram com palestrantes homens e nove, apenas, com palestrantes mulheres. Na primeira conferência de quinta-feira, a mesa estava composta por quatro homens e uma mulher.
Como entender que, num evento onde a maioria dos participantes (e dos organizadores) são mulheres (numa proporção de mais ou menos 12 para cada homem), a maioria dos conferencistas sejam homens?




a liberdade está restrita à uma liberdade de escolha entre mercadorias
[it's all brand new]

O incremento da produção, das ciências, das técnicas revela necessidades e capacidades desconhecidas, faz refletir um espectro suntuoso de gostos, de criações, de diferenças; mas a reificação e a alienação fazem da humanidade uma plebe perplexa diante do espetáculo de seus próprios fetiches. A produtividade aumentada do trabalho libera tempo para a criatividade individual e coletiva, propícia a novas formas de convívio e lucidez; mas a medida 'miserável' de qualquer riqueza e de qualquer troca pelo tempo de trabalho abstrato transforma a incrível liberação potencial em desemprego, em exclusões, em miséria física e moral. (Daniel Bensaïd)