quarta-feira, dezembro 17, 2003


[continuando]


Paulinho disse:
"A ruptura existe ali e acolá. Fazem parte de esforços para tentar algo novo. Tabadotupi é uma tentativa. Dpadua escreveu tbm sobre Sociedade da Partilha. Eu há tempos falo nisso. Hernandi fala sobre colaboração, ética hacker, piratas. Dalton toca os projetos do MetaReciclagem. Felipe com o Liganóis. Etc

Creio que cada um leva sua visão e tenta aglutinar pessoas em volta de suas ações descentralizadas.

O risco que cada um de nós corremos é de não acertar, de achar que estamos mudando algo quando na verdade estamos inseridos no mesmo sistema que criticamos. Esse é um risco. Vc alertou há algum tempo com aquela fábula da ribeirinha.
Acho que a inteligencia coletiva em seu contexto de vários cérebros colaborando é uma boa ajuda. As listas de discussões, os blogs, os comentários e todas as conversações que emergem nesses meios ajudam a cada um a repensar seus próprios pontos de vista e chegar em novas idéias ou percepções da realidade.

Tbm acho que a ruptura real ainda não aconteceu... talvez nunca aconteça. O que vale é tentar."

Hernani continua:
"Su, continuo achando tua analise equivocada. O linux não é exemplo de software livre. Exemplo é o apache... o linux rompe o paradigma do modo de produção capitalista, burguês, protestante, industrialista, imperialista e o escumbau. Mas não é perfeito. Tem suas contradições... logicamente."

Raquel, entrando na roda:
"Vou interferir com a minha colher torta: Su, sou obrigada a concordar com o Hernani. Eu realmente acho que o modo de produção do linux e a sua persistência enquanto ferramenta colaborativa, "idealista", com pessoas que trabalham de graça só por amor à camiseta e o fanatismo quase religioso dos linuxers aponta sim, para uma ruptura. Essa ruptura é também, como já foi falado, passa por comunidades virtuais, blogs, webrings e TAZ (que eu não acho que seja sinônimo de tudo isso). Essa ruptura é, justamente, o que ninguém esperava: De repente, no seio capitalista selvagem, do nada, surge um trabalho colaborativo e cooperativo mundial que dá certo.

O Castells desenvolve muito essas idéias num capítulo em que ele fala da ética hacker no livro novo- A Galáxia da Internet. Ele acredita que a Internet, por ter surgido numa confluência meio estranha, cheia do liberalismo dos anos 70, o idealismo da contra-cultura, as revoluções e o movimento punk, é capaz de gerar essas rupturas por conter e por conter em si essas contradições."

Su, seguindo o rastro:

Quando eu falei que "O Linux, mesmo entendendo-o como símbolo do software livre, colaborativo, não é um modo de produção.", falei entendendo "modo de produção" no sentido abrangente, pois estava falando de um todo hegemônico social, político, econômico, cultural. Disse que o Linux era símbolo (não exemplo) do software livre, pois, neste assunto é referência, é associação de idéias.

Hernani, o Linux não rompe o modo de produção capitalista, burguês,... porque ele é produzido dentro do sistema dominante que é este, num processo de elaboração (criação) diferente, mas que não altera a lógica sistêmica. Seu processo de elaboração é tendência, assim como a Internet, que a Raquel coloca tão bem, é. Condição de possibilidade de práticas diferentes que possam se disseminar. Pode levar à uma ruptura? Acho cedo para dizer.
Máquinas usando Linux , empresas produzindo Linux, operam no modo de produção capitalista e servem perfeitamente aos seus objetivos de produção social e apropriação privada.

Concordo com a Raquel, pois ela coloca as coisas de modo diferente. Ela usa modo de produção no sentido de forma de criar, elaborar, de processo. E, isso, é esperança de criar espaços de ruptura. Falo esperança, porque as próprias contradições envolvidas não permitem ir além da tendência.

Concordo com o Paulinho: "a ruptura existe aqui e acolá". E acrescento: quem dera como vírus que se espalhe e não como apenas guetos.

Em muitos aspectos temos as mesmas idéias. E penso que é importante esta partilha, como estamos fazendo aqui, para o avanço nestas fissuras em que tentamos fazer germinar algo novo.
Entendo que o conhecimento, a ciência e a tecnologia são bens humanos, que devem ser construídos de modo a vir ao encontro dos interesses da humanidade e ser de livre acesso e utilização por todos. Acredito que é importante o nosso engajamento na luta para manter e conquistar a liberdade e a autoria dentro destes espaços que se abrem.

O que eu pontuo, e foi o início da minha intervenção, é que, neste processo, não esqueçamos a totalidade onde estamos inseridos ao criar, estudar, mobilizar, valorizar os espaços de luta. Não negligenciemos as contradições. Justamente, e aí concordo de novo com o PR, para não cairmos no risco de pensar estar mudando alguma coisa, quando apenas estamos legitimando o que aí está.


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