terça-feira, dezembro 16, 2003


advinhem quem é a furiosa
[Natal]


Hoje foi o dia de desalojar todos os insetos que habitam o meu telhado e a cêrca viva. Agora ela está viva e indignada. Uma das lagartixas soltou o rabo e disparou e sua companheira me olhou com uma expressão definitivamente assassina.

Dia de colocar as lâmpadas de Natal.

Faz tempo que não faço árvore e muito tempo, ou nunca, usei pseudo-neve ou pseudo-coisas que não existem por aqui. Sempre me deu uma angústia danada ver o Papai Noel tão agasalhado. Vai ver era por isso que eu tinha aquele temor respeitoso quando ele aparecia em todos os Natais da minha infância.

É meus caros... No bairro Navegantes, um bairro entre o pobre e o remediado, como dizia a minha avó, o Natal era um acontecimento. Nos tempos que se tinha vizinhos e que a rua era uma extensão do pátio, um happening da fofoca e da solidariedade, tinhamos um Papai Noel profissional. Dedicadíssimo. Com carroça, cavalo, sininho e um cajado temível, que fazia estremecer o bairro todo.
Todo o Natal ele percorria a Av França de alto a baixo, da delegacia até a Farrapos, presenteando, dando varadas, filando uns comes aqui e ali e, tornando mágico o Natal dos nem tão pequenos. E um tanto aterrorizante para alguns.

Meu avô, jogador de bocha e tomador de um(?) lisinho diário, antes de nos pegar no colo e conversar, era um alvo anual das varadas. Acho até que o Papai Noel era parceiro da bocha e resolvia descontar no Natal alguma partida mal resolvida.
O moleque ruivo e sardento que morava umas duas casas depois da minha já chegava de joelhos, porque a lista na mão do Papai Noel era maior que ficha corrida do ladrão da rua.

Mas a coisa toda era mágica. Noite, mães, tias e vós se agitando pela casa. Banho tomado, berreiro pra prender o cabelo. Berreiro discreto neste dia especial, neh.
E lá ficávamos nós, a mana e eu, indecisas entre subir no muro e espiar ou ficar o mais perto possível da segurança da casa.

E aí o sino tocava e tudo começava, mais uma vez.

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