sábado, dezembro 13, 2003


[totalidade]


Hernani, seguindo o assunto que comentei no post anterior, diz:
Não estou analisando capachos como Drake. A contradição vem da negação, por um lado, e do outro a aceitação dos padrões das sociedades capitalistas. Penso que a necessidade do MetaReciclagem e de outros projetos colaborativos é a negação efetiva do tradicionalismo. [...]
Uma administração pirata (ou por células de terror) só é possível num ambiente caótico. E livre. Não fazemos apologia aos butins. Não queremos nos relacionar com a espada mais ágil. Não queremos a subordinação pelo sistema. Estamos propondo coisas diferentes. Uma filosofia Open Source. [...]
Vivemos numa intersecção. Não entre a cultura de massas e a cultura de rede, mas numa interação de idéias e pensamentos que tem origens anteriores ao feudalismo. No entanto, a sociedade em rede é fator comum, um máximo divisor comum da humanidade. Vivemos em rede. Rede de amigos, de parentes, família, negócios. Tudo isso engendrado nos relacionamentos 'conversacionais' das pessoas comuns. Uma sociedade colaborativa emerge quando a gentileza gera gentileza. [...]
Assim como hacker não é uma palavra do mal; pirata significa uma luta pela liberdade de uma sociedade que negava a sua contemporaneidade). Por isso, creio que a solução está numa visão celular da rede. Com informação e autonomia.
leia na íntegra

E eu continuo.
Capachos como Drake são o exemplo vivo da contradição e não excessões. Quando eu digo que o sistema e sua lógica permeia tudo, aponto que a economia informal é apenas economia que opera em modo precário e não fora da exploração de uns por outros. Ela mesma reproduz a lógica na qual está inserida.
Tens razão em relação ao MetaReciclagem, precisamos pensar e engendrar linhas de fuga, mas sem esquecer que a contradição estará presente e de seu movimento, das muitas e sempre mutantes sínteses é que podemos encontrar novos caminhos. E estes novos caminhos passam por novas formas de ver o mundo, novas possibilidade de estruturação econômica e política, pelo software livre, .... A liberdade será conseqüência e não condição de realização.
E, assim mesmo, só se pode prever a luta.

Faz tempo vivemos num misto de cultura de massas e de rede, se pensarmos as redes na forma como tu colocaste. Hoje, o que temos é um aumento nas possibilidades desta rede, embora eu não veja um recrudescimento da cultura de massa.
Eu vejo na internet grandes possibilidades, justamente em algumas direções que tu mesmo colocas: "Uma sociedade colaborativa emerge quando a gentileza gera gentileza."
Penso que a rede de redes entrelaça pessoas e comunidades numa trama que não coincide com o desenho das comunidades materiais. Na realidade, esta rede costura numa outra dimensão o que, materialmente, pode estar solto ou muito afastado. As novas comunidades são este emaranhado de fios que se sobrepõem às relações entre as comunidades materiais e constroem comunidades multiculturais que mesclam o local e o global e, sendo outras, são, ao mesmo tempo, as mesmas comunidades materiais.
Uma comunidade online não se constitui no lugar da comunidade local-territorial, antes é seu complemento. Emerge como resistência à fragmentação e ao individualismo, como uma possibilidade de autoconstrução que ocupa os espaços deixados.

Eu entendi o sentido que dás a palavra pirata e hacker, mas quis te alertar que tanto uns como outros estão imersos numa totalidade contraditória e que as contradições se manifestam em todos os níveis. Trabalhar estas contradições em sínteses sempre inacabadas, abertas a muitas vozes é o grande desafio.
Por estas que vejo com tristeza o falecimento do Metáfora.

Uma célula é parte de um todo, é um sistema aberto que interage com o meio e, nestas, a autonomia deve ser desejada, perseguida, mas consciente de seus limites. Limites que não são muros, mas são faróis que orientam a ação.

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