Eu não SOU da academia, apenas ESTOU na academia, como aluna do doutorado e pesquisadora. Não pretendo entrar para a universidade como professora / pesquisadora. Pelo menos, isso não faz parte dos meus mal planejados projetos de futuro. Gosto do que faço e pretendo continuar trabalhando onde trabalho.
Porém, ...... Gosto de pesquisar, adoro estudar, me divirto lendo, fuçando, aprendendo. E isso vou continuar fazendo.
Neste contexto, o que eu publico em revistas. anais, etc está na medida do que é necessário no doutorado e para contribuir com a instituição onde estou - UFRGS. Ou seja, fora isso, não estou nem aí para os qualis, para os índices de produtividade, para rechear o meu lattes. Publico, na maioria das vezes, para compartilhar mesmo e porque adoro escrever. Hoje, a la Rainha Branca, eu penso em seis coisas impossíveis antes do café da manhã, mas, quando eu crescer eu quero ser a Agatha Christie.
E é a partir deste meu lugar é que eu sigo comentando sobre Publicar ou Morrer.
A Raquel e a Adriana, também postaram sobre o assunto, tocando em diversos pontos da complexidade qiue é esta questão de publicar na academia x acesso livre. A Raquel fala sobre as diferenças entre o Brasil e os EUA, em termos da qualidade \ fechamento das publicações e avisa (e eu concordo com ela) que o Brasil tem muitas publicações abertas de excelente qualidade, inclusive consideradas pelo qualis.
Raquel traz ao debate o dilema de quem está na academia pressionado por regras que avaliam o pesquisador e a instituição mais pela quantidade do que pela qualidade. É nestas que surgem as máquinas de fabricar artigos, muitos quase um auto-plágio (eu já beirei isso diante de certas imposições, até porque fica difícil não se repetir ao contar a mesma coisa).
A Lady A (gosto de chamar a Adriana pelo nick dela) fala da desgraça que é quando queremos (ou precisamos) muito ler alguma coisa e ela está trancada em algum lugar não acessível, ou acessível apenas pelos servidores da universidade.
A Raquel concorda comigo, com a Lady A e com a danah (com minúsculas como a Raquel ensinou) em relação a importância do acesso aberto na internet, mas aponta a face complicada da publicação aberta: o oportunismo dos que copiam e colam :), o todo ou as partes, sem nenhuma referência a autoria. E eu acrescento: e que publicam como se seus fossem, partes inteiras copiadas de textos teus já publicados em revistas e anais conceituados.
Isso aconteceu comigo e, mesmo contatando os editores das duas revistas e enviando as comprovações, os textos lá continuam, decerto apostando que a professora brasileira não vai ter perna para processar duas revistas fora do Brasil.
Concordo com a Raquel que o desespero por publicar torna quase inacessíveis periódicos e eventos, mesmo os nem tão importantes e que a avaliação por pareceiristas cegos (quando os pareceristas lêem o trabalho sem saber de quem é) poderia reverter este quadro dando oportunidade à autores iniciantes e à pesquisas que não estão amparadas no nome do pesquisador. Eu acrescento: a escolha dos pareceristas e a distribuição dos trabalhos por eles deveria ser alvo de muito cuidado.
Em 2005, encaminhei um artigo sonre RSS e Educação para um congresso de informática na educação, para a sub-área educação/formação do professor, pois o artigo falava das possibilidades da agregação de conteúdos para a educação, focando no professor, na escola e seus projetos. Não foi aceito com a seguinte justificativa: este é um tema já muito discutido e conhecido dos professores. Nem hoje, 2008, é um assunto de domínio de professores. E eu fico pensando: quem é este parecerista?
No final da sua postagem a Raquel diz:
Por fim, minha defesa mais polêmica: Eu também acho que a pesquisa realizada pela graduação deveria ser mais valorizada. E acho que as revistas deveriam ter um espaço para a Iniciação Científica. Eu creio firmemente que IC não é mão de obra barata, mas uma chance de que alguém comece a dar seus primeiros passos, escolha um problema e investigue-o.
Só concordo. E vejo, neste trechinho acima, um monte de coisas para discutir. Por exemplo: como, quando e onde os alunos são considerados mão de obra barata na IC; o que, às vezes, está por trás da publicação conjunta de orientador e orientando; ...
E acrescento: Eu defendo a pesquisa feita na e pela educação básica. Por que o olhar da academia seria mais importante e qualificado do que o olhar do professor da escola de ensino fundamental e médio?
E, ... sosseguem, vou encerrar por aqui :) Vou arremesar prá errar e vamos ver quem pega o rebote.
Estes últimos dias li, por acaso, diversas postagens e textos falando da publicação acadêmica. Um deles, Os intelectuais e o truque da mistificação mútua, de Ezio Flávio Bazzo, gerou uma semana de debates na lista #submidialogia.
Por um lado, criminalizar e, pior, ridicularizar a academia só faz com que os poucos focos de resistência que lá permanecem se pós-modernizem e passem a celebrar a apologia da reciprocidade umbilical. Por outro, o "ping pong pederástico" dos sabichões, como aponta o autor do texto, é mesmo uma coisa tão fora do mundo, que é admirável descobrir que os acadêmicos se propõem a investigar a realidade.
E, como as coisas não ficam apenas nos dois lados, existe o contexto dos formulários, calendários, departamentos, bolsas, verbas e qualis, que aprisionam a maior parte da criatividade num mar de produtivismo burocrático.
"Discutem-se possíveis significados da intensa preocupação vigente nos âmbitos acadêmicos com a idéia de produtividade em pesquisa que se reflete em um excesso de artigos publicados em várias revistas científicas. A contabilização numérica de artigos publicados por investigadores em revistas científicas de reconhecido status acadêmico serve para legitimar acadêmicos nos seus campos de atuação de várias formas. Nesse sentido, sugere-se que o artigo científico assume aspectos de mercadoria como fetiche [...]"
Entre a alegria (e a necessidade) do reconhecimento em publicações consideradas e a outra alegria de ver o trabalho livre e à disposição de todos, quem está ligado à academia vai vivendo. Se envergonhando, por vezes, por ser parte da barreira que impede o acesso à produção científica e, se indignando em outros momentos, especialmente naqueles onde o seu texto fica tão preso nas engrenagens que, ao nascer, já nasce velho. E nasce apenas para um público restrito, o resto dos umbigos, que na maior parte das vezes nem o lê.
Nós, alunos e professores, construímos, ao longo das nossas práticas, textos, reflexões, apresentações, palestras, imagens, etc. – trabalhos de todos os tipos que, na maioria dos casos, ficam empoeirando numa pasta ou esquecidos num arquivo no computador. Saber isolado, inativo, morto. E nossas melhores produções muitas vezes são condenadas aos cupins de alguma biblioteca ou à prisão de cadastros, senhas e boletos bancários.
Quando se trata do homem em sua existência (em seu trabalho, em sua luta, etc.), será possível encontrar uma abordagem diferente daquela que consiste em passar pelos textos de signos que ele criou ou cria? - perguntou Bakhtin, num de seus livros.
E que pesquisa é esta que não liberta os seus frutos para alimentarem outras pesquisas?
Pois é,... nas respostas pode ser que eu descubra, por exemplo, por que um projeto como este envolveu muita gente, menos a academia.
Este meu texto é para por o assunto na roda. Tenho as minhas idéias e grande parte delas já discuti em outros momentos. Se a roda se formar, talvez eu entre e dance :)