quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Publicar ou Morrer


Estes últimos dias li, por acaso, diversas postagens e textos falando da publicação acadêmica. Um deles, Os intelectuais e o truque da mistificação mútua, de Ezio Flávio Bazzo, gerou uma semana de debates na lista #submidialogia.

Por um lado, criminalizar e, pior, ridicularizar a academia só faz com que os poucos focos de resistência que lá permanecem se pós-modernizem e passem a celebrar a apologia da reciprocidade umbilical. Por outro, o "ping pong pederástico" dos sabichões, como aponta o autor do texto, é mesmo uma coisa tão fora do mundo, que é admirável descobrir que os acadêmicos se propõem a investigar a realidade.

E, como as coisas não ficam apenas nos dois lados, existe o contexto dos formulários, calendários, departamentos, bolsas, verbas e qualis, que aprisionam a maior parte da criatividade num mar de produtivismo burocrático.

Aí, eu que estava acompanhando a discussão de longe, sem saco para participar, dou de cara com a crítica da academia à própria academia: Entre fetichismo e sobrevivência: o artigo científico é uma mercadoria acadêmica?, onde Luis David Castiel e Javier Sanz-Valero, dizem que:

"Discutem-se possíveis significados da intensa preocupação vigente nos âmbitos acadêmicos com a idéia de produtividade em pesquisa que se reflete em um excesso de artigos publicados em várias revistas científicas. A contabilização numérica de artigos publicados por investigadores em revistas científicas de reconhecido status acadêmico serve para legitimar acadêmicos nos seus campos de atuação de várias formas. Nesse sentido, sugere-se que o artigo científico assume aspectos de mercadoria como fetiche [...]"
E hoje, passeando pelo google reader, encontro a Danah Boyd falando que open-access is the future: boycott locked-down academic journals (+- o acesso aberto é o futuro: boicotem sa revistas acadêmicas de acesso restrito), e contando da dor e da delícia de publicar.

Entre a alegria (e a necessidade) do reconhecimento em publicações consideradas e a outra alegria de ver o trabalho livre e à disposição de todos, quem está ligado à academia vai vivendo. Se envergonhando, por vezes, por ser parte da barreira que impede o acesso à produção científica e, se indignando em outros momentos, especialmente naqueles onde o seu texto fica tão preso nas engrenagens que, ao nascer, já nasce velho. E nasce apenas para um público restrito, o resto dos umbigos, que na maior parte das vezes nem o lê.

Nós, alunos e professores, construímos, ao longo das nossas práticas, textos, reflexões, apresentações, palestras, imagens, etc. – trabalhos de todos os tipos que, na maioria dos casos, ficam empoeirando numa pasta ou esquecidos num arquivo no computador. Saber isolado, inativo, morto. E nossas melhores produções muitas vezes são condenadas aos cupins de alguma biblioteca ou à prisão de cadastros, senhas e boletos bancários.

Quando se trata do homem em sua existência (em seu trabalho, em sua luta, etc.), será possível encontrar uma abordagem diferente daquela que consiste em passar pelos textos de signos que ele criou ou cria? - perguntou Bakhtin, num de seus livros.

E que pesquisa é esta que não liberta os seus frutos para alimentarem outras pesquisas?

Pois é,... nas respostas pode ser que eu descubra, por exemplo, por que um projeto como este envolveu muita gente, menos a academia.

Este meu texto é para por o assunto na roda. Tenho as minhas idéias e grande parte delas já discuti em outros momentos. Se a roda se formar, talvez eu entre e dance :)

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