sexta-feira, maio 08, 2009

As propostas de mudança na educação do RS


Fiquei indecisa entre rir ou chorar quando li esta matéria do jornal ali da Azenha. Cheguei ao link acompanhando as reverberações do tema entre o professorado e seguindo os links de quem se animou a escrever sobre o assunto.

Penso que a nossa governadora e a sua secretária de educação não compreenderam a proposta do MEC (que não é nenhuma novidade). Isso é muito constrangedor para quem se propõem a pensar e gerir a educação de um estado. Agora, ... se não foi esta vexamosa falta de compreensão, a alternativa é pior: má fé, deliberado oportunismo.

É surpreendente que nem bem o MEC apresente uma idéia e o governo do RS já tem uma proposta pronta para levar a frente a sua versão. Eficiência? duvide-o-dó.

Ninguém nega que a educação necessita ser reinventada (até para resistir melhor a este tipo de ataque), mas este processo passa por uma discussão ampla mobilizando professores, alunos, comunidade e não vir na forma de pacotes fechados a serem implantados goela abaixo de todos. Até porque não vai funcionar e daqui uns anos de tentativas, virá outra "transformação vertical", pois sempre tem alguém que sabe sozinho o que é melhor para todos.

E, além disso, qualquer transformação passa necessariamente por duas coisas: formação e trabalho do professor.

A secretária Mariza Abreu diz:

"– Não significa que o currículo vai abandonar as disciplinas, mas que estará organizado em áreas em que as pessoas terão de trabalhar de forma integrada. O mesmo professor tem que dominar as disciplinas de sua área – diz Mariza." (link para a matéria)

e mais adiante:

"A ideia da Secretaria Estadual da Educação (SEC) é que, no futuro, todo professor esteja apto a lecionar qualquer uma das disciplinas integrantes da área de conhecimento a que está vinculado. Por exemplo, um professor de biologia poderia dar aulas de química e física. Já um de história poderia lecionar também geografia e filosofia."
[...]
Dependendo da formação do professor, ele precisará ser treinado para começar a lecionar uma nova disciplina. Segundo a secretária da Educação, Mariza Abreu, a intenção é realizar treinamentos dentro das próprias escolas [...]" (link para a matéria)

Absurdo irresponsável, não pela idéia em si, mas pela irresponsabilidade de tentar treinar apressadamente quem não foi formado. Neste sentido, podemos estender esta proposta para a área da saúde, fazendo da medicina, fisioterapia, enfermagem, educação física, nutrição, ... uma grande área e, aí, eu posso treinar para fazer algumas cirurgias simples.

E, pior... Certo que o treininho será naqueles duas ou quatro minguadas horas semanais destinadas à preparar aulas e reuniões (tudo que não seja aula). Ou será que o novo plano de carreira que a secretaria de educação está hum..., discutindo, trará a previsão deste tempo de "treinamento" incluído na carga horária semanal do professor, além do tempo para planejar a aprendizagem, preparar aulas e corrigir trabalhos e tarefas?

((para quem não sabe, um professor do Estado que tem 40h semanais, dá 36 horas de aula e tem 4h para fazer todo o resto: ir a reuniões, atender pais e alunos, planejar, preparar, corrigir, estudar, ler, ...))

Penso, entretanto, que a proposta do MEC não é nem de perto esta que o nosso governo tão rapidamente apresentou. A idéia, pelo que entendi, é trabalhar de forma integrada, numa perspectiva mais estruturada, procurando a interdisciplinaridade. Idéia que não é nova e é levada de diferentes modos por muitas escolas. Em parte, é aquela conhecida integração vertical e horizontal dos conteúdos.

Nas aulas de Educação Física, Biologia e de Física no CMPA é feito um trabalho conjunto dos professores, usando o Atletismo (corridas, treinamento intervalado, ...), conteúdos de Física (Movimento, Energia, Energia Cinética, ...) e Biologia. Porém, os professores trabalham juntos, cada um na especificidade de sua formação e na compreensão dos conceitos mais amplos da outra área de formação. Os professores de educação fisica e biologia sabem o que é aceleração de um movimento, mas quem aprofunda este assunto é o professor de Física. O professor de Física sabe o que é energia/movimento, mas quem explica o que acontece no organismo humano durante um determinado tipo de movimento é o professor de educação física. O professor de Biologia pode aprofundar ainda mais este assunto. Ou seja, todas as áreas se aproximam e têm muitas regiões comuns.

Para que um professor pudesse abranger com qualidade estas três áreas, seria necessária outra formação. E uma formação já transformada.

Todavia, eu ainda não acredito no que li, quer dizer, que vai permanecer isso que foi publicado. Penso que ligeirinho vai aparecer algum "eu não falei ..., eu só disse que...".

Colegas professores do Estado do RS: vocês vão continuar calados e, nem diante desta aberração autoritária, não vão FAZER nada?

Alunos: vocês tranquilamente vão treinar basquete com um médico e fazer uma cirurgia com o nutricionista?

Mais aqui:

Cloaca News
Diário Gauche
Quebra Tudo - por Robson Freire
Agência Estado - proposta do MEC

Ler, também:

"A política educacional de Yeda Crusius lembra os métodos de Pirro: castigo e anacronismo. Defendeu a 'enturmação', um procedimento pedagógico revolucionário consistindo emempilhar alunos de séries diferentes numa mesma sala para fazer economia a curto prazo e agradar ao Banco Mundial. Opôs-se a pagar o piso federal como salário inicial, preferindo ver o piso um teto. Provisório. Resolveu encarar greve como folga. Mesmo a recuperação das horas não trabalhadas, procedimento sensato, não bastou. Yeda, como Pirro, prefere o castigo no grão de milho e a palmatória. É mais educativo. Afinal, nessa concepção altamente inovadora, a humanidade só funciona por punição e recompensa." (Juremir Machado da Silva, no Sineta)

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