domingo, abril 12, 2009

ainda a criatividade na escola


equipePensar em criatividade é considerar novas, artesanais, espertas, inteligentes, oportunistas, etc e tal maneiras de fazer alguma coisa, resolver um problema, criar algo que não existe. Poucas coisas dão mais prazer do que ser criativo em algum momento necessário.

Assim, o que acontece na escola (vide a entrada anterior) não mata a criatividade, mas restringe muito o seu espaço. A educação é o local das coisas esperadas e previstas: espera-se receber um determinado aluno e espera-se devolver este aluno, ao fim do previsto processo escolar, com um determinado conjunto de experiências, conhecimentos e as tão faladas "competências e habilidades".

A maior parte dos dissabores escolares estão nas tentativas de 'conformar' os alunos que fogem ao padrão esperado ou evitar que eles 'atrapalhem' a 'normal' evolução dos demais nos processos planejados. É por aqui que se desencoraja a criatividade.

Nunca assistiu isso?
Experimente, então, saber algo antes de lhe ser ensinado, interpretar algum fato social além da linearidade de alguns livros didáticos ou resolver algum problema matemático de forma diferente da ensinada. E, pior..., questione a importância de decorar algumas das coisas pedidas nas provas.

Professor, experimente não ensinar e, sim, aprender junto, embora isso leve mais tempo. Ou tente uma nova forma de trabalhar um conteúdo, mesmo que possa errar na sua avaliação sobre as possibilidades da nova metodologia.

Aluno, experimente aprender qualquer coisa que não está na "lista de conteúdos". Qualquer coisa fora da lista é desconsiderada como aprendizagem. E pense que a tal lista, embora inclua educação física e artes, estas não estão no mesmo patamar de relevância.

(Falando em relevância: o que é mais importante saber? os nomes das luas de Júpiter ou os nomes das renas do Papai Noel?)

Se o aluno, jogando basquete, aprende a pensar rápido e tomar decisões em segundos, isso nem sequer é conhecido (muito menos compreendido) pela escola. (embora pensar e tomar decisões rápidas seja uma boa coisa, quando não se sabe como vai ser o mundo daqui a 5 anos)

Porém, se todo o processo está programado e previsto dentro de um certo conceito do que é importante e o que não é¹, cadê o espaço para a criatividade? Ou, cadê o espaço para ser diferente do padrão?

E o que falei acima pode ser estendido para os professores, administradores. Há um programa para eles, também. E este programa atende ao que? Possivelmente a alguma "necessidade" imediata que não vai mais existir no futuro.

Incrivelmente, estes programas são planejados e incentivados, também, pelos próprios programados... (isto é, nós mesmos...) E tendem a se cristalizar e ter vida própria na educação. Tornam-se dogmas e não podem nem ser questionados.

O vestibular, por exemplo, que é o farol que ilumina todos os planejamentos da escola, será que ele seleciona os melhores candidatos a serem médicos (ou professores ou administradores ou ...) ? Ou seleciona classifica aqueles que sabem mais quantidade de conteúdos do ensino fundamental e médio (incluindo, quem sabe, as luas de júpiter e as renas do papai noel)?

Não é a toa que estudantes que entram por cotas vão bem na universidade, pois eles, e uma outra enorme quantidade de estudantes, estão aptos a cursar a universidade. Então, porque não um sorteio entre os aptos, em vez de vestibular?

Pois, como um processo, que é puramente quantitativo (pra dizer o mínimo) e pretensamente "universal", pode ser usado para selecionar os mais aptos para seguirem determinadas carreiras e, pior, para condicionar, direcionar e ser a finalidade (não mencionada) da educação?

É por estas que algumas escolas estão se tornando especialistas em formar alunos para passar no vestibular, outras estão tentando isso e, outras, desistiram e não estão fazendo nada.

E, dentre as que desistiram e não estão fazendo nada, estão a maioria das escolas públicas que, progressivamente estão sendo obrigadas a desistir de ser escola. Ou vocês não estão observando o desmantelamento do que é público e o crescimento das "empresas especializadas em educação"?

E a criatividade? Neste momento, ou seja, enquanto ousamos pouco alguma criatividade em relação as estruturas e aos sistemas (não só da escola), a criatividade está em se virar dentro do gesso, em transgredir, nas pequenas hegemonias locais² (contra-hegemonias) e, nisso, muitos alunos e professores se saem muito bem.

¹ sobre as "coisas importantes" a Elisângela fez uma entrada bem legal.
² Como diz o Sérgio Lima

(as óbvias lacunas no texto, em especial as que tocam em alguns assuntos, mas não desenvolvem, podem ser detonadoras de uma boa discussão nos comentários. Aliás, discutir publicamente aquilo que discutimos nas listas de discussão, pode ser uma destas pequenas hegemonias locais )

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