sexta-feira, maio 01, 2009

dia do trabalho - dia do trabalhador



foto dos trabalhadores almoçando sentados em uma viga durante a construção do edifício RCA em 1932, de C. Ebbets.
O incremento da produção, das ciências, das técnicas revela necessidades e capacidades desconhecidas, faz refletir um espectro suntuoso de gostos, de criações, de diferenças; mas a reificação e a alienação fazem da humanidade uma plebe perplexa diante do espetáculo de seus próprios fetiches. A produtividade aumentada do trabalho libera tempo para a criatividade individual e coletiva, propícia a novas formas de convívio e lucidez; mas a medida 'miserável' de qualquer riqueza e de qualquer troca pelo tempo de trabalho abstrato transforma a incrível liberação potencial em desemprego, em exclusões, em miséria física e moral. (BENSAÏD, 1999, p. 99)
Vivemos uma época de sucessivas transformações sócio-culturais, dentro de um contexto de aceleração crescente que se reflete em todos os aspectos da vida humana, reconfigurando radicalmente as relações sociais.

Este processo atinge de forma especial o trabalho e as práticas cotidianas e provoca a necessidade de reorganização e de novas abordagens. A tecnologia é proposta como opção para facilitar e diminuir o nosso trabalho, porém nunca se trabalhou tanto e em tão inseguras condições como atualmente. A globalização e o desenvolvimento técnico-científico são, neste sentido, ambivalentes e contraditórios.

Se não houvesse, em grande parte, por trás do desenvolvimento tecnológico uma busca frenética por lucros cada vez maiores, num esquema de guerra onde a vida e a ética são colocadas em segundo plano, os aspectos positivos da ciência e da tecnologia, seriam em maior número, maior abrangência e direcionados segundo melhores critérios. Teríamos erradicado a maioria das doenças e não inventado a guerra bacteriológica. Teríamos alimentos em abundância sem correr o risco dos transgênicos e das imensas granjas industriais . Teríamos tempo livre para todos e não teríamos desemprego e exploração.

E teríamos, realmente, trabalho.

Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. [...] Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colméia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalho aparece um resultado que já existia antes idealmente na imaginação do trabalhador. (MARX ; ENGELS, 2002)
Sem a medida miserável do tempo de trabalho.

Mas de nada adianta: burgueses que se empanturram, domésticos mais numerosos que a classe produtiva, nações estrangeiras e bárbaras abarrotadas de mercadorias européias. Nada disso faz escoar as montanhas de produtos que se acumulam, maiores que as pirâmides do Egito: a produtividade dos operários europeus desafia qualquer consumo ou desperdício. Os industriais, aflitos, não sabem mais a quem apelar, não conseguem mais encontrar matérias-primas para satisfazer a paixão desordenada e depravada de seus operários pelo trabalho. (LAFARGUE, 2000, p. 167)
Lafargue aponta de forma irônica e certeira a lógica que move o capital, que no século XIX dominava e explorava pela fome e pela miséria e que atualmente domina e explora pela cultura e pela ideologia. Hoje, as 'nações bárbaras' são as filiais produtoras das montanhas de mercadorias, cuja dança continua.

E a saída? Gramsci ensina que só se pode prever a luta. Bensaïd (1999) aponta a saída de Marx que envolve uma redefinição dos critérios do progresso, a consideração de critérios que priorizem o enriquecimento do indivíduo e da espécie, que suprimam o trabalho alienado e que valorizem as relações entre as pessoas.

À nós cabe resistir em nossos espaços de educação e trabalho. Uma resitência consciente, a partir da consideração do trabalho e da educação como direito e bem humano e não como mais uma mercadoria.

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BENSAÏD, Daniel. Marx, o intempestivo : grandezas e misérias de uma aventura crítica (séculos XIX e XX). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 512p.

LAFARGUE, Paul. O Direito ao Ócio In: DE MASI, Domenico (org.) A Economia do Ócio. Rio de Janeiro: Sextante, 2001. 183p.

MARX, Karl. O Capital 23 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. livro I vol. 1

* uma revisitação a este texto.

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