sexta-feira, janeiro 16, 2009

A Cordilheira


cordilheira de concreto

Bem podia ser o nome de uma nova novela... É e não é, em todo caso...

Enquanto continuo tentando trabalhar na tese e resistir à cozinha da Vó Mimi, me assombram as contradições do progresso. Fui criada passando os verões em Xangri-lá, no tempo em que a nossa casa era a número 19 do florescente balneário.

Havia um só Hotel, vivia ainda publicamente "o sambaqui" e a praia se chamava Capão Alto. Do sítio arqueológico que regurgitava pontas de flechas e cacos de cerâmica não tenho notícias desde que é propriedade particular.

Capão da Canoa era a matriz e o lugar do passeio eventual: cinema e volta na praça. Evento que tem muitas histórias na família. O Hotel Riograndense, ponto de referência em Capão, ainda era de madeira...

Mas o meu pai se criou em Capão da Canoa, no tempo que os caminhos eram para carretas e cavalos. Então, assim que pode comprou uma casa em Capão, abandonando Xangri-lá.

E Capão cresceu, cresceu e, agora, incha, quase cancerosamente...
Na beira mar, uma cordileira de concreto ataca o vento. Em cada casa demolida surge um edifício de 9 pavimentos. Onde antes havia uma família, entram 20 ou 30 outras.

Desde que venho para cá, nunca vi a prefeitura abrir buracos maiores que os que já tem nas ruas para redimensionar a rede de esgotos. Hoje, cada vez que chove, não sentimos apenas aquele tradicional cheiro de 'sapinho'. Outro fe, digo, cheiro se insinua e nos dá a certeza de que corremos o risco de literalmente afundar na m*&#@...

É por estas que progresso não significa necessariamente avanço nas condições de vida. Para cada edifício novo, brotam mais casebres na favela que se cria no fundo da praia. E esta cordilheira que avança em todas as direções diminui os dias (que já são contados) de se poder viver Capão.

Marcadores: ,


comentários:

Assinar Postar comentários [Atom]