domingo, maio 11, 2008

a questão do tempo


De tempos em tempos o tempo ganha um bom tempo do meu tempo :) Brincadeiras à parte, quanto mais velhos ficamos, mais notamos os pequenos detalhes e as grandes diferenças que a passagem do tempo vai esculpindo no nosso cotidiano.

Esta semana, no início de um dos treinos de basquete, estávamos em círculo conversando e alongando quando chegou um dos guris, apressado e atrasado e foi entrando na roda. Alto e magrão, ele usava umas meias longas, verdes com algumas listras brancas e eu, para brincar, falei para o grupo que ele tinha vindo vestido de Garibaldo.

Ninguém riu... e eu tive de me dar conta que fazia tempo que o Garibaldo já estava com o prazo de validade vencido para menores de 30 anos.

Passou... Até que ontem eu estava conversando com um dos meus alunos menores, no MNS (ele, porque eu uso SamePlace) e ele todo agitado resolveu me mostrar uma música. É tri engraçada, disse ele. E me enviou "O Vira", cantado pelos Mamonas Assassinas. E continuou animadamente me contando como tinha "descoberto" a banda e as músicas dela.

Fiquei achando estranho até que a ficha, de novo, caiu... O tempo... Ele nasceu no mesmo ano que os Mamonas se foram. Hoje, como quem escava algum acervo de discoteca falida ele descobre os Mamonas...

E foi aí que comecei a pensar nas obras do tempo nos lugares, nas pessoas. Pensei nas coisas que se vão e que só se recuperam por sorte, por um acaso qualquer que atira aquela lembrança na nossa frente.

E me veio aquele medo de sempre de esquecer, de esquecer que minha avó me contou que na gripe espanhola as pessoas morriam na rua e que meu avô, quase menino ainda, ajudava nas brigadas que retiravam os mortos. E eu já me esqueci se os bondes desta época já eram elétricos ou ainda puxados por burros. A gente esquece... Ela estava lá como eu agora estou aqui vivendo as coisas do meu tempo. Seja na história oral ou qualquer outro meio de registro temos este impulso de não deixar desaparecer no tempo as coisas.


Porém, de certa forma deixamos pistas e um belo dia alguém redescobre os nossos guardados. Uma arqueologia cotidiana que vai desenterrando as coisas que enterramos. Me fez pensar neste nosso tempo de tantos registros, de tantos 'sambaquis digitais'.

Os blogs um dia vão ser o lugar de onde recuperar a história de um dia, narrada na voz de milhares de pessoas. Isso, por si só, já permite um outro olhar sobre as narrativas cotidianas, os textos simples que falam do café de uma manhã qualquer.

Neste modo arqueológico que entrei o dia das mães e escaneei fotos velhas, segui por elas algumas trajetórias, reencontrei pessoas, mexi com o tempo e as lembranças. E na casa de minha mãe reviramos gavetas, fuçamos velhos albuns, perguntamos uma vez mais: quem era este aqui? Relembramos, rimos de novo, sentimos saudades. E fica aqui o registro, porque eu não quero esquecer.

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