quinta-feira, maio 05, 2005

Dez anos de internet - um pouco das minhas lembranças


Podemos pensar que, no acesso à internet, está implícito o abrir de uma janela para outra dimensão, rica em novas possibilidades interativas, ou um abrir de comportas para um dilúvio de informações, que tanto podem nos potencializar o conhecimento, quanto nos sufocar na alienação e na banalidade.

A primeira metáfora lembra um livro que eu gosto muito: Aventuras de Alice Através do Espelho, de Lewis Carroll (s/d), onde uma menina, ao saltar para dentro de um espelho, encontra um mundo onde o tempo e o espaço assumem diferentes formas. Neste mundo desconhecido, ela parte para aventuras, tendo que reorganizar sua forma de pensar e mobilizar de modo diferente os seus conhecimentos. A segunda metáfora subentende a aceitação do movimento, do fluxo das interações. Ação, no primeiro caso, reação, no segundo. Penso que as duas coisas acontecem, pois ambas estão inseridas no movimento das contradições de nosso humano viver, uma é o resultado do diálogo com a outra.

Foi com este jeito alice que conectei pela primeira vez à internet. Fazia algum tempo que eu possuía um computador, quando pude ampliar suas capacidades, melhorando a memória, o espaço em disco, instalando um moden e multimídia. Minha tela passou a contar com novos ícones, portas para novas descobertas que fui acessando aos poucos.
Em princípio, tratei de aprender como manejar o correio eletrônico e o navegador. Fiz isso explorando, testando, errando, perguntando, lendo os arquivos de ajuda. Havia um determinado ícone da tela, colocado por iniciativa do técnico que fizera a instalação, que se tornou muito importante na minha aprendizagem. Era o acesso para um aplicativo chamado Avalanche que, quando executado, fazia conexão com algum tipo de lugar e abria uma janela oferecendo várias opções de acesso desconhecidas. Depois de algumas tentativas sem encontrar nada, escolhi a opção chamada #scripts e abriu-se uma grande janela. Digitei, então, a frase que foi a minha primeira interação com pessoas na internet:

<marginal> o que são scripts?

A frase surgiu na tela. Aparentemente, marginal era eu.

<scripter> script é isso que vc ta usando para entrar aqui.

Na conversa que se seguiu, descobri que Avalanche era um script criado para um aplicativo chamado mIRC e que IRC era o tipo de rede que eu estava acessando. Foi neste espaço que comecei a aprender sobre a internet e seus usos. Da navegação solitária passei aos territórios povoados e colaborativos. Ouvindo, perguntando, seguindo dicas, pesquisando ...

O contato com aquelas pessoas, algumas distantes e desconhecidas, me fez compreender a rede e muitas de suas possibilidades. Fez com que eu pudesse transpor para a internet e exercitar, também, a forma de aprender que já estava implícita na minha relação com os livros. Aprender de forma independente, autônoma, fora dos limites dos programas e currículos, buscando o conhecimento que está no mundo nas práticas das pessoas.

Não só descobri o que era um script, como construí um, o RuNNer, no início para uso próprio e, mais tarde, para alguns amigos. Isso depois que explorei tanto alguns scripts, desconstruindo-os a ponto de chegar-lhes nas tripas, descobrindo que eram programados usando uma linguagem parecida com as que eu aprendera no curso de engenharia.

Mais tarde, devido às solicitações, decidi disponibilizar o RuNNer na rede. Como uma coisa leva a outra, aprendi html para poder fazer a página. Foi nessa época que me tripliquei na rede: suzzana, a usuária comum; RuNNer, a scripter que todos imaginavam ser algum adolescente; SusieQ, a Ircop, uma das poucas operadoras da rede Brasnet.

Foi possível constatar que construir conhecimento passa pelo contato com informações distribuídas nos mais variados espaços. Uma condição de possibilidade mediada pelas pessoas que interagem nas redes, dialogando, cooperando, construindo sentido. E é por isso que continuo por aqui.

Technorati Tags: , , , , ,

comentários:

Assinar Postar comentários [Atom]