segunda-feira, agosto 23, 2004


[as lições dos jogos]


   Praticamente o país parou para ver se Daiane realizava alguns de nossos sonhos. O de todas as brasileiras, por terem como a melhor do mundo uma mulher brasileira. O das brasileiras negras, por uma negra ser a melhor ginasta de solo na competição mais importante do planeta. O sonho dos pobres por saber que, apesar de tudo, existe a possibilidade de superação. E por aí afora...
   Daiane fez o que era praticamente impossível para nós. Mesmo não ganhando a medalha de ouro. E mostrou que pode ser, se já não é, a melhor do mundo. Sobrou impulso, sobrou garra, energia e coragem. Ela merecia, talvez como qualquer uma daquelas gurias, a medalha de ouro.
   Final olímpica é isso. Um êrro, mesmo que seja dos árbitros, como no caso do vice-campeão masculino, pode tirar o atleta da prova.
   Porém, o Brasil (inclusive tu e eu) não merecia. Não valorizamos as atividades físicas, não investimos em educação e, muito menos em educação física. Ou melhor, até investimos, mas no sentido do mercado financeiro. Apostamos em mercadorias que poderão gerar lucros... :)
   Ainda por cima, ficamos achando o máximo quando uma Daiane, que é um fenômeno mesmo, consegue vencer a pobreza, a precariedade dos treinos, o preconceito e vencer. Isso devia, sim, envengonhar cada um. Cada um que aceita pobreza, preconceito, precariedade como coisas naturais que tem de ser vencidas individualmente.
   É ... , da forma como vêm sendo, não é o caminho valorizar esportes de alto nível, altamente produtivistas, mercantilizados no pior sentido.
   Assim como a produção capitalista está se lixando para o trabalhador e para o meio ambiente, o esporte capitalista não está nem aí para a saúde do atleta, para a ética, para a felicidade. Importante é quanto a Nike vai te pagar (ou não) para aparecer com o bonezinho.
   Este não é o esporte que queremos, pelo menos para aqueles que acreditam na dimensão educativa, formativa, lúdica do esporte e das atividades físicas em geral.

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