sábado, maio 08, 2004


[dia das mães]


Minha filha nasceu à noite e logo em seguida levaram-na e me disseram para dormir. Claro, que não dormi. Passei a noite como quem tinha participado de uma maratona e chegado bem. Tri ligada, mas meio estropiada. Como se alguma coisa no meu corpo estivesse fora do lugar.
No outro dia, trouxeram ela cedinho, toda de cor de rosa e de fitinha no cabelo. Peguei ela curiosa, não lembrava direito da carinha dela. Peguei meio sem jeito, ou melhor, com jeito de quem não estava acostumada a pegar bebês.

Ela me olhou, do mesmo jeito que olha até hoje e que, faz pouco, descobri que é o mesmo modo que eu olho, às vezes. Sobrancelhas baixas, meio de lado, definitivamente furiosa. Ela me amedrontou naquele dia... Aquele olhar bateu direto no sentimento de culpa que eu já tinha e que nunca mais me deixou. Mas culpa de quê? Sei lá... Na real, era como se me tivessem dado um cargo para o qual eu não tinha nem a metade da formação. Me senti uma fraude e parece que ela sabia disso...

Lamento muito, pensei eu. Olhei para ela quietinha, com cara de desculpa, e o meu olhar queria dizer:
-Acho que tu vais ter que conviver com isso... Eu sou tua mãe.

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