quarta-feira, março 03, 2004


[celebrando a vida]


Talvez seja esta a razão de todos rirem tanto nos velórios. Muito choro, consternação, tristeza contida ou chorada sem pudor e ... riso. A vida tão forte puxa. Impossível esquecer o calor do sol, o relógio que segue incansável, o amanhã que pensamos estar tão perto, tão nosso e tão certo.
Acho que rimos por saber desta auto-sabotagem, desta cegueira pré-fabricada, destas certezas tão incertas.
Hoje, fui num velório de alguém que importava eu estar lá. E fiquei olhando as pessoas: o choro, o riso, a vida puxando cada um para lá e para cá.
Viajei ... imaginei os pensamentos. Uns chorando e lembrando o morto querido, constatando chocados os pensamentos apócrifos se infiltrando no seu lamento.Esqueci de pagar o condomínio...; vai dar tempo de chegar no cabeleireiro?; como a Simone engordou!
A culpa e o alívio... a tristeza e o riso ...

Me peguei criativa olhando as lápides. Vendo a mesmice daqueles quadros, portas da frente lacradas dos pequenos apartamentos empilhados. Aqui jaz Anibal, * 12-08-1932 +22-06-1994, saudades eternas e a foto meio apagada de um Anibal absolutamente contrariado.
E aí o pensamento apócrifo, embora criativo, se insinua.
Lápides digitais!
Uma pequena tela, uma tecla, um clic e surge um filminho estrelado pelo finado. Seus melhores momentos enquanto tinha momentos.
Talvez um espaço para se por algum recado, não... acho que ele não viria ler... Um testemunho, é melhor. Mas aí a coisa toda já ficaria complicada e, provavelmente, o Bill gates já terá patenteado antes que eu publique este post.

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