terça-feira, outubro 14, 2003


[reflexões sobre o 'paradigma da beirinha']

ou, lendo Ellen Wood.
No penúltimo capítulo do livro, "Capitalismo e emancipação humana: raça, gênero e democracia", Wood, falando alguns dos novos movimentos sociais, usa uma frase de Isaac Deutscher (Marxism and The New Left), dos anos 60, proferida em relação ao ativismo estudantil americano da época:
"Vocês estão em atividade efeverscente às margens da vida social, e os trabalhadores estão passivos no centro dela. É esta tragédia de nossa sociedade. Se não enfrentarem este contraste, vocês estão derrotados."

Ellen Wood comenta que este aviso é mais pertinente hoje para a esquerda do que foi para os estudantes naquela época. De uma certa forma, concordo com ela, mas o que me chama atenção na frase de Deutscher é o "às margens". Hoje, numa grande parte dos movimentos sociais,ou até na maioria, abandonou-se a luta para romper/sair do sistema. Fica-se às margens. É o que eu andei batizando de paradigma da beirinha. O discurso radical é usado, apropriado, pasteurizado e... situado às margens. O sistema capitalista é tido como algo dado, natural, perene e desloca-se a luta para vários fragmentos, no máximo às margens.
Quando leio em algum trabalho algo assim: "Segundo Morin, o princípio hologramático, (...) o todo está nas partes e elas estão no todo, ...", apresentado como idéia original, como 'nova idéia', me pergunto o que fizeram de Espinosa, que inspirou o pensamento de Marx, tão bem aprendida por Lukacs e Kosík?
É nestes espaços que floresce o paradigma da beirinha, que vem impregnando uma boa parte dos movimentos sociais.

comentários:

Assinar Postar comentários [Atom]