segunda-feira, outubro 06, 2003


imagem de http://www.japi.org.br/
[histórias da cidade]

Agora a pouco, vinha retornando do CM quando uma camionete grandona, que vinha embromando na minha frente me fez lembrar uma história. Antes que eu me esqueça, vou contar. Na época, foi uma destas coisas interessantes e até surreais que nos acontecem num dia 'normal'.
Acho que faz uns dois anos, quando eu vinha, de carro, descendo a Vicente da Fontoura rumo ao supermercado que fica quase na esquina com a Ipiranga. A Vicente, para quem não conhece Porto Alegre, tem um declive bem acentuado nesta direção.
Na minha frente ia uma camionete grande. De repente, surgiu no teto da cabina um bichinho, saído sei lá de onde. O coitadinho, uma espécie de rato sem rabo, deslizava sobre o teto tentando segurar-se, conforme a camionete seguia seu caminho.
Notei que o motorista parecia não ter notado que o seu animalzinho tinha saído e se encontrava por cair na rua a qualquer momento. Buzinei, abanei e nada de chamar a atenção do cara.
Numa destas, o bichinho chegou a se dependurar numa das laterais, quase caindo. Eu, com a alma aflita, e pensamentos sobre a perda de um companheiro querido, assistindo. Foi aí que ele abriu seus espinhos e eu pude identificar: um porco-espinho.
Estavamos chegando perto da entrada do supermercado e eu não teria mais como avisar o seu dono. Foi aí que a camionete sinalizou e dobrou a direita entrando no estacionamento do supermercado. Camionete para a direita, porco-espinho arremessado à esquerda.
Ágil, ele caiu no asfalto e correu para a praça que fica em frente à entrada do estacionamento. Ágil, eu entrei direto atrás da camionete e estacionei, rapidamente, ao seu lado.
Desci ao mesmo tempo que o motorista da camionete. Preocupada, com pensamentos sobre o destino do bichinho, das crianças que ficariam chorando, etc, me parei na frente dele e de uma vez só desembuxei:

- O Senhor perdeu o seu porco-espinho!

O cara parou. Olhos arregalados. Juro que cheguei a ver a corrente de pensamento tentando sintonizar alguma coisa na mente dele.
Um longo minuto depois ele reagiu:

- Ah... eu estava vindo do sítio...

Aí foi a minha vez de parar e sintonizar a minha militância em prol dos animaizinhos perdidos. É incrível como, às vezes, pulamos uma parte de um raciocínio que seria lógico e viajamos na mais engordurada maionese.

O porco-espinho não era de estimação... era um clandestino. Não que isso invalide alguma preocupação, mesmo que mais distante, por razões anatômicas é claro.
Avisei o pessoal do supermercado sobre o novo morador da pracinha, mas nunca mais tive notícias dele.

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