domingo, setembro 07, 2003


[O peixe do tenente *]


* os nomes foram trocados intencionalmente para que a autora não seja presa.

O tenente Lorenzi ganhou de presente um briguento exemplar de um peixe chamado Beta. A criaturinha antepática, mas coloridamente linda, vinha num aquário especial, individual para que não comesse os companheiros e com uma lista de procedimentos para o seu bem estar.
O Ten. Lorenzi instalou o aquário bem no meio do seu "altar" particular: entre a foto do treinamento na selva, o troféu da competição de tiro e os suplementos alimentares. Feito isso, chamou todos os soldados da seção para a instrução sobre o peixe.
Quem por acaso passasse em frente à SEF, pensaria que estávamos guardando uma ogiva nuclear no meio das bolas de basquete, tal o esquema de segurança.
Menos de um mês depois, bem na época da síndrome da qualidade total e, creio, que até por isso, chego na seção mais cedo para acertar uns gráficos que deveriam povoar a parede até a inspeção dos 5S. Olhando o peixe, achei que ele estava com uma cara meio ... relaxada, diferente da sua atual cara fechada. Dito e feito: estava mortinho!
Alarme dado, alguns gritos e em vinte segundos três soldados e um cabo estavam em posição de sentido frente ao tenente. (eu quietinha no computador)
-Quem era o mestre do peixe esta semana? - pergunta o tenente.
- Soldado Da Costa, Senhor. - responde o cabo.
O soldado Da Costa dá um passo à frente, meio inseguro.
- O peixe morreu. - informa o tenente. (cara seríssima, de agente funerário no trabalho)
- Tenente, ... eu não sei como, pois fiz tudo certinho como sempre. - fala Da Costa sem respirar. E olha para os companheiros procurando alguma solidariedade. Mas, estes, imóveis, fixam com ar impessoal algum ponto obscuro na parede por trás do tenente. Da Costa se conforma e prossegue:
- Ontem era dia de trocar a água do aquário e eu preparei a água ...
- Você colocou cloro no peixe! - acusa o tenente.
Muito solene, Da Costa escolhe a saída técnica:
-Não, tenente. Eu sempre preparo a água e, enquanto o anti-cloro faz efeito, coloco o peixe nesta canequinha ali e limpo o aquário.
A caneca apontada é a caneca do Tenente Lorenzi comer os cereais toda a manhã.
Toda a tropa, menos Da Costa, entende a gravidade do momento e procura com mais afinco algum lugar no horizonte para onde tele-transportar a atenção, o espírito e, se der, o corpo.
O resto da estória dá para imaginar.
O peixe foi devidamente pranteado e enterrado com honras militares no canteiro das rosas. O Sd Da Costa pagava missão cada vez que o Ten. Lorenzi estava com a caneca na mão e alguém mencionava qualquer animal aquático.

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