domingo, setembro 21, 2003


[Domingo, 21 de setembro - madrugada à bordo]

Chamar um ônibus de "leito" se situa entre a gozação e a perversidade. Os critérios para definir "leito" são muito flexíveis, mais ou menos como a questão da empregabilidade, hoje. Isso torna qualquer coisa que pareça vagamente com uma poltrona e que possa se inclinar em qualquer ângulo maior que 90°, uma cama.
Em caso de necessidade, levantar de tal leito significa rastejar de debaixo do "leito" do passageiro da frente, que paira à uns cinco centímetros da nossa barriga. Para quem está sentado na janela é impraticável. Possivelmente, você seria acusado de assédio sexual. Depois de viajar num destes ônibus "leito" eu fico imaginando o que seria o "semi-leito" oferecido pela embroma bus.
Estas coisas não têm janelas, pelo menos alguma que abra. Acredito que possa funcionar como submarino em caso de guerra. Em pouco tempo, com ou sem ar condicionado (outro eufemismo), aquilo vira uma incubadora perfeita para qualquer tipo de bactéria ou vírus.
Quarenta estranhos dormindo juntos é uma coisa aterradora, nestas circunstâncias. Perto demais, uma intimidade sem escapatória. Roncos, gemidos, puns! Fumantes se esgueirando para o banheiro.
Quando o sol apareceu fraquinho, já fazia tempo que um pensamento mesquinho se infiltrava: "Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?"


:: isso tudo começa e continua aqui

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