terça-feira, julho 29, 2003



[técnica e religião - relembrando Sokal]

Lembro bem quando analisamos um texto que comentava um artigo de Alan Sokal. Este havia pregado uma peça nos editores, supostamente especialistas, da revista Social Text, quando mandou para publicação um texto que misturava verdades científicas, meias-verdades, blá blá blá pós-moderno e besteiras literais. O texto foi publicado e Sokal puxou o tapete, num segundo artigo em outra revista, onde desmascarava a farsa e criticava o sistema de publicação.
Na ocasião, eu andava enrolada com alguns textos de Karl Apel e chegara à conclusão, no caso, resumida e oportunista :)) , de que muitos textos são escritos para serem sacralizados, reverenciados e exibidos nos altares em que se transformam certas publicações.
Não existem para ser compreendidos, interpretados, praticados. São abstrações, algumas querendo dizer absolutamente... nada.
Quando provém de autores conhecidos, como Sokal, mesmo que escrevendo fora de sua área de conhecimento, tendem a ser aceitos sem crítica nenhuma, baseados apenas na reputação do autor. As maiores bobagens são, assim, publicadas, como demonstrou Alan Sokal.
Hoje estive lendo um texto de Erick Felinto, do GT de Comunicação e Sociedade Tecnológica da COMPOS, escrito para o XII ENCONTRO – Recife/PE – UFPE – 2003, onde ele menciona Sokal ao descrever a estetização da teoria que desnuda o caráter analógico do pensamento contemporâneo, especialmente nos estudos sobre a cibercultura. Nestes estudos, proliferam as metáforas e o pensamento se aproxima de uma tecno religião.
Quão verdadeiro é isso... E revelador do ponto fraco que é o analógico pensando o digital.
Felinto usa Benjamin e, ao analisar, os tensionamentos entre técnica-religião, logos-mythos, não fecha, nem numa suposta neutralidade científica, nem num ufanismo que fetichiza. Sem dizer, pensa dialéticamente...

comentários:

Assinar Postar comentários [Atom]