terça-feira, abril 08, 2003

Leary, surfista do caos


Por Cláudio Julio Tognolli


Freud notava: a pulsão é o destino. Errou: o pêndulo é o destino. Falar em contracultura é falar em pêndulos. Pensamentos, atitudes, moda, tudo passa para do off broadway contracultural para o mainstream da indústria cultural de massa. Servidos para a massa de manobra, os bens contraculturais morrem ao sabor do consumo. Anos depois, retornam às novas gerações como novidade. Adorno já referia, há 40 anos: o estatuto do novo é o estatuto do historicamente inevitável.

Senão, vejamos: os novos hippies da geração trance "redescobrem" a moda contracultural do anos 60, trocando o melhor pelo que mais dele se aproxima. Estão apenas reinventando a roda, já carcomida pelos anos de óxido - já que, pouco a pouco, o estatuto da cidadania virou estatuto do consumidor. Ter "atitude" substituiu o engajamento político. Muita forma. Nenhum conteúdo.

A contracultura nasceu, dizia Timothy Leary, dos 13 dias que abalaram o mundo: a crise dos mísseis, em 1962, que antagonizou nuclearmente (nos dois sentidos do termo) Kennedy e Nikita Kruschev. Dali pra frente, era melhor curtir o paraíso terrestre como paraíso artificial, quimicamente induzido, do que esperar pela hecatombe. Tudo o que até partidos de direita hoje vindicam, desde não-sexismo, igualdade entre brancos e negros, pacifismo etc, era uma gama de valores marginais, nos anos 60. Viraram mainstream, ainda bem. Mas hoje o que sobrou da contracultura? Consumo.


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